Moradores queixam-se do barulho da construção da estação no jardim do Carregal.
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Os moradores das habitações envolventes ao jardim do Carregal, onde a Metro do Porto está a construir a estação que vai servir o Hospital de Santo António, contestam o barulho que a obra está a provocar, durante 24 horas/dia. Dizem que não conseguem dormir e que o volume do barulho viola a lei do ruído. O tormento poderá durar quatro meses, tempo previsto para o fim dos trabalhos. A empresa diz que vai avançar com medidas para mitigar o impacto negativo.
"Fomos avisados pela Câmara do Porto que a obra passaria a ser em contínuo, mas nunca suspeitamos que o barulho seria tanto. Passamos noites inteiras sem dormir", queixa-se Andreia Silva, gerente de um restaurante junto ao jardim. "Acabo por adormecer por cansaço. Aluguei esta casa em janeiro e só não vou para outro sítio para não quebrar o contrato", refere André Castro, outro morador no local. A Metro do Porto reconhece o problema mas relembra que já estava previsto na Avaliação de Impacto Ambiental, tendo a empresa um conjunto de licenças especiais de ruído emitidas pela Câmara do Porto.
decibéis acima da lei
"Não contestamos a importância da obra, queremos é ter o direito ao descanso", diz João Maia, técnico de audiovisuais, que instalou dois sonómetros na varanda e garante que a lei do ruído é violada: dos 55 decibéis permitidos são detetados 80. "Sabemos que, no futuro, vamos beneficiar com o metro, mas estamos a viver dias e noites de grande sofrimento. Já não basta os acessos estarem cortados e não passar aqui ninguém", salienta Fernanda Pereira, que gere uma casa de pasto há mais de 30 anos. O impacto nos negócios já é evidente. Um parque de estacionamento corre o risco de fechar por a receita estar "longe de cobrir os 16 mil euros mensais" de renda.
A Metro do Porto esclarece que "estão já quase no fim das escavações dos poços e que, quando começarem a escavar o túnel, o barulho será menor". Seja como for, está já em curso um conjunto de medidas adicionais para mitigar o ruído. A empresa diz que vai colocar barreiras acústicas em toda a obra e em torno das autobetoneiras. Serão ainda utilizados equipamentos que façam menos barulho, como veículos com rodas em vez de lagartas.
Ao mesmo tempo, serão usados veículos com braços hidráulicos em vez de mecânicos e a escavação passará a ser com rotativas e não por percussão. A empresa, contudo, "não tolera comportamentos menos próprios dos moradores, como apontar luzes laser aos trabalhadores". O empreiteiro já efetuou participações criminais contra um morador.
A saber
Lei do ruído
A legislação permite, em casos excecionais e devidamente justificados, o exercício de atividades ruidosas temporárias, tais como festividades, divertimentos públicos, feiras, mercados, trabalhos de construção civil e utilização de máquinas e equipamentos.
Quatro estações
A Linha Rosa vai ter quatro estações subterrâneas: em S. Bento, no Hospital de Santo António, na Praça da Galiza e na Casa da Música.
De maior impacto
A empresa reconhece o maior impacto da construção da Estação do Hospital de Santo António por ser uma área fortemente habitacional.
Protagonistas do dia
André Castro
Morador
"Aluguei o apartamento ainda antes da obra começar e, se soubesse que seria assim, nunca teria vindo para esta zona morar. A obra é necessária, mas é um absurdo que funcione à noite porque o barulho é bem alto. Não é por acaso que muitos apartamentos aqui estejam a ficar vazios e seja difícil o seu aluguer"
Pedro Rosa
Funcionário Parque do Carregal
"As pessoas evitam vir para esta zona e estacionar no parque. A ocupação está nem a um décimo de janeiro. Servimos pessoal que trabalha em escritório e funcionários e doentes do hospital. Antes de começar a obra, o parque enchia quatro vezes por dia. Estamos a negociar com a Metro contrapartidas"
Andreia Salomé Silva
Comerciante e residente
"O meu quarto é mesmo virado para a obra. De dia, a gente abstrai-se do barulho, mas à noite, com o silêncio, é insuportável. Não temos nada contra a obra, mas trabalhamos aqui no restaurante, no rés do chão da casa, das oito até às 20 horas e é muito complicado e doloroso no dia a seguir voltarmos a trabalhar"