Setenta e dois anos a escrever em mais de uma dezena de jornais, tipógrafo, uma vida dedicada ao "seu" Varzim SC, um impulsionador do associativismo local, o "pai" do Plano de Promoção do Atletismo.
Corpo do artigo
Aos 86 anos, Luís Leal é o mais antigo jornalista da Póvoa de Varzim ainda em funções. Vai receber, no próximo dia 16 de junho, a Medalha de Reconhecimento Poveiro.
"Era o 12.º filho. Acho que foi por isso que nunca dei futebolista. Era o suplente", diz, sorrindo. Ainda assim, o amor ao Varzim começou cedo e, com seis anos, já carregava as "malinhas" dos jogadores só para poder ver os jogos.
"Sempre que passava na tipografia, ouvia as máquinas e queria saber como é que as colunas das páginas saíam tão certinhas. Fiz a comunhão solene no dia 20 de junho de 1946 e, no dia 21 comecei a trabalhar na Tipografia Frasco", conta. Era "ardina". Distribuía o "Comércio do Póvoa", jornal local no qual se "estreou" a escrever três anos depois.
Nessa altura, era o "faz-tudo": escrevia, compunha páginas, distribuía jornais. "Era letra a letra. Não fazia rascunho. Ia para a máquina e ia "escrevendo", "ao contrário", com as letras de chumbo", conta.
Viu de perto a censura "sem nexo", é do tempo em que se ia de comboio ao Porto levar os textos - e, às vezes, perdia o último de regresso a casa e dormia nos Aliados. Os jornais ainda não tinham fotografias e ia à cabine mais próxima telefonar a meio do jogo para dizer o resultado.
Passou pelo "Norte Desportivo", "O Comércio do Porto", "Jornal de Notícias", "Diário Popular", "A Capital", "Revista Equipa", agência ANOP (atual Lusa), "A Bola" e "Record" (para o qual escreve há 54 anos). Fundou o jornal "O Varzim".
O computador "mudou tudo". Leal adaptou-se: "Agora, é muito mais fácil. Escreve-se e já está lá".
Sem nunca praticar desporto nenhum, fundou, há 41 anos, o Plano de Promoção do Atletismo que pôs a criançada de todo o concelho a mexer. Foi diretor do Varzim e do Desportivo da Póvoa, ajudou o Naval Povoense, foi presidente do Bonfim. Lembra o episódio em que queria trazer para o Varzim o "menino" Domingos Paciência (ainda júnior), a saída de Meirim (1971) e a maior reportagem que fez: "Foi um Porto-Portimonense. O povo entrou pelo campo dentro e não houve jogo".