A demolição do prédio Coutinho avança em duas fases, com mão humana e máquina trituradora. O ministro do Ambiente desafiou a cidade a candidatar-se a Património Mundial.
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Segunda-feira foi o dia zero da demolição, anunciada há 20 anos, do Edifício Jardim, vulgarmente conhecido por prédio Coutinho, em Viana do Castelo. A operação, a concluir em fevereiro de 2022, será executada de forma faseada. Primeiro, entre setembro e outubro, com recurso a mão humana para retirada de materiais e depois com uma máquina giratória com pinça demolidora de grande alcance (braço com 30 metros), que desmanchará a construção. Piso por piso, triturando a estrutura de betão desde o topo até ao solo.
O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, deslocou-se ontem àquela cidade para assistir ao ato de consignação da obra à empresa Baltor (Viana do Castelo). E ao início simbólico da empreitada no valor de 1,2 milhões de euros. Declarou que, sem o polémico imóvel de 13 andares, construído no início da década de 70 em pleno centro histórico, Viana poderá, finalmente, candidatar-se a património da Unesco. "Só havia uma razão para Viana do Castelo não ser património mundial e ela chama-se prédio Coutinho", disse, desafiando o autarca José Maria Costa a avançar com a referida candidatura.
A operação começou ontem simbolicamente, com instalação de tarjas da empresa na fachada do prédio, do outdoor que anuncia a obra e trabalhos de vedação. Segundo avançou o CEO da Baltor, Cláudio Costa, em agosto será instalado o estaleiro e preparada a obra, e em setembro "uma equipa de 20 a 30 pessoas vai desmembrar tudo o que é possível humanamente". "Vai retirar tudo o que são portas, instalações sanitárias e o que é amovível no edifício, e deixá-lo em tosco. E depois, em outubro ou novembro, com um equipamento especial, uma máquina muito peculiar que tem um braço com mais de 30 metros de vão, vamos fazer a demolição gradual", disse, descrevendo que o referido sistema, idêntico ao que foi utilizado para demolir o bairro do Aleixo, possui uma pinça demolidora que "trinca o betão e tritura-o, caindo os destroços para o piso inferior". "Queremos que isto seja um espetáculo de desconstrução ou seja que as pessoas possam passar e perceber que isto é uma engenharia um bocado complicada e, ao mesmo tempo, que uma obra que está a ser feita em segurança", afirmou ainda Cláudio Costa.
Acrescentar valor ao Norte
O ministro do Ambiente considerou o aproveitamento de resíduos "uma razão pela qual valeu a pena esperar 20 anos" pela desconstrução do imóvel. "Há 20 anos nós dizíamos mesmo demolição. Demolir era tirar daqui [resíduos] e podia ser que se aproveitasse alguma coisa. Hoje não. Quase tudo o que daqui sair vai voltar a ter valor económico", considerou.
Já o presidente da Câmara, José Maria Costa, considerou que ontem "foi um dia importante" para a cidade e considerou "um ótimo desafio" o que lhe foi lançado por Matos Fernandes. "Estou certo de que Viana do Castelo, ao candidatar-se para património mundial este centro histórico, vai acrescentar valor também à região Norte, que já tem outros espaços e áreas classificadas", concluiu.
Novo mercado municipal em 2023
Após a demolição, começará a ser construído no local do prédio Coutinho o futuro mercado municipal da cidade. Segundo o autarca de Viana, deverá ficar concluído "no final de 2023"
Cinco frações ainda sem acordo
Segundo Matos Fernandes, proprietários de "cinco das 100 frações [expropriadas] do prédio ainda não chegaram a acordo" com a Viana Polis. "As indemnizações estão há anos depositadas à conta do tribunal", disse.