A Associação Portuguesa de Seguradoras tinha anunciado o recurso a medidas excepcionais e simplificadas para pagar aos acidentados da tragédia da A25. O que de um modo geral aconteceu com a maioria dos 59 condutores. Casos isolados são a excepção.
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Maria de Fátima Conceição Rodrigues, professora aposentada, residente em Oliveira de Frades, recebeu a indemnização pela perda da sua carrinha (uma Mitsubishi com quatro anos e 28 mil quilómetros) em menos de 15 dias. "Fiz a participação à seguradora, dois dias depois do sinistro, e em menos de duas semanas estava a receber o dinheiro do veículo de acordo com os valores de mercado", adiantou.
APS recusa esclarecimentos
Embora a APS tenha recusado prestar esclarecimento sobre o processo indemnizatório, o JN apurou, junto de uma dezena de automobilistas que estiveram envolvidos no acidente de 23 de Agosto, que os processos, com algumas excepções, foram "rapidamente" regularizados.
As duas colisões em cadeia, que envolveram 59 viaturas nos dois sentidos da auto-estrada, junto a Talhadas (Aveiro), fizeram seis vítimas mortais e dezenas e feridos.
O ministro da Administração Interna, Rui Pereira (que se deslocou ao local dos acidentes) e a APS anunciaram na altura dos acidentes o recurso a mecanismos excepcionais, neste caso um protocolo para a regularização de choques em cadeia, que permitiria agilizar o pagamento das indemnizações aos acidentados. O que tem vindo a acontecer.
Quase dois meses passados sobre a data do acidente, Maria de Fátima Rodrigues, que regressava da Praia de Mira com uma amiga e os dois sobrinhos desta, reconhece que as suas contas estão regularizadas. "E a colega que vinha comigo só ainda não recebeu a indemnização a que tem direito, porque está em tratamento e não apresentou as contas". Um outro caso, o que envolveu a morte de uma criança de oito anos e do pai, Jorge Resende, de 49, professor em Viseu (uma segundo filho de quatro nos sobreviveu e já teve alta), está a decorrer dentro da normalidade. "Há um documento relativo ao processo do meu irmão, que corre na conservatória, que ainda não está pronto. Mas pela forma atenciosa como os seguros têm acompanhado o assunto, não tenho dúvidas que quando tivermos o papel será tudo pago", disse Amélia Resende, irmã e tia das vítimas mortais.
Emídio Costa Ferreira, motorista de pesados residente em Oliveira de Frades, regressava com a mãe de Sever do Vouga quando foi "apanhado" pelo violento acidente na A25. "Tive de regatear com a seguradora, mas o valor do Opel Corsa que ardeu totalmente foi pago em 15 dias", confirma. O condutor espera agora que o pagamento das despesas de saúde com a mãe tenha igual desfecho.
Sem carro e sem moto
O caso de Helena Duarte, de Penamacor, que envolve duas seguradoras, confirma a excepção à regra. A condutora espera e desespera, há quase dois meses, para receber a indemnização pelos prejuízos sofridos no carro, atrelado e moto que seguia em cima.
"Disseram na altura que cada seguradora pagaria ao seu segurado, e que depois resolveriam os problemas entre elas. Não foi isso o que aconteceu comigo. Fiz a participação dois dias depois do acidente e continuo à espera", desabafa indignada. A condutora tinha vendido a moto, que ia entregar a Aveiro, e tem de devolver o atrelado que lhe fora emprestado.