Apesar de muitos admitirem que, este ano, as compras de Natal estão a ser feitas com maior contenção, a corrida às prendas de última hora voltou a encher os shoppings do Grande Porto. Em Gondomar, Matosinhos e Gaia, o cenário foi semelhante.
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Vestida com a camisola mais festiva de todo o centro comercial, - não estivesse nela estampado o nome da música mais badalada da quadra natalícia, "All I want for Christmas is you" -, Ana Barbosa procura, no Parque Nascente, em Gondomar, as prendas que faltavam. "Cheguei hoje da Suíça e não tive muito tempo. Comprei umas coisas lá, mas estas são as mais especiais", admite, confessando que um Natal sem prendas não faria sentido. "Nem que seja uma pequena lembrança", considera.
Pelo meio do centro comercial, Leandro Gonçalves, de 25 anos, conduz um carrinho de compras totalmente recheado. Ocupou o dia a comprar presentes de última hora com o irmão e a namorada porque "teve mesmo que ser", recordando que, por trabalhar no estrangeiro, já não passa o Natal em Portugal "há cinco anos". No carrinho, tem já um televisor para a mãe.
Foi o irmão quem foi buscar Leandro ao aeroporto. E para Fabian Esteves o mar de gente que se forma no Parque Nascente "é o normal para esta época" e a ida ao shopping foi mesmo inevitável. "Por causa do trabalho, não temos muita disponibilidade e hoje foi o dia em que conseguimos vir cá. É uma confusão fora do comum, mas aguenta-se bem", justifica. Já para a namorada de Leandro, Eduarda Machado, de 24 anos, "tem sido um bocadinho stressante comprar tudo para toda a gente": "É muita gente e há muito trânsito". Mas caso não houvesse troca de prendas, Eduarda considera que o Natal "não perderia o significado".
À porta da loja do F. C. Porto, Ângela Santos, de 37 anos, procura "um miminho" para o pai. Acompanhada pelo marido e pelo filho, saiu de Valongo em direção a Gondomar, depois do almoço, para levantar encomendas feitas online. "É só pegar e andar", aconselha.
"Até acho que não esteja muita confusão, não me assustou", confessa Ângela, observando o movimento do centro comercial. O marido, António Ferreira, responde: "A mim assustou". Entre gargalhadas, Ângela justifica: "Ele não gosta de shoppings".
Quanto às prendas, nenhuma ficou por comprar, mas Francisco, de 13 anos, reforça o pedido já feito: "Dinheiro e roupa". "Preciso de umas chuteiras", sugere.
Perante o fenómeno da corrida aos presentes de última hora, Ângela tem uma explicação: "Está relacionado com o movimento do dia-a-dia. Às vezes não dá naquele dia e uma pessoa vai deixando o tempo passar e fica para o fim".
Maior parte do tempo perdeu-se nas filas
À porta daquele que é um dos centros comerciais mais concorridos do Grande Porto, o movimento de entradas e saídas deixa transparecer a confusão que se vive no interior do NorteShopping, em Matosinhos. Rosa Oliveira, de 18 anos, já tinha lá estado dias antes, mas como não conseguiu encontrar as prendas que procurava nem para a irmã, nem para a melhor amiga, regressou esta sexta-feira ao centro comercial, ainda que não tenha sido fácil circular pelo meio de tanta gente.
"Há muita confusão, mas por acaso hoje consegui fazer tudo bastante rápido. O tempo que mais perdi foi mesmo nas filas", explica a poveira, considerando, ainda assim, "não ser preciso receber prendas para estar feliz nesta época".
Inflação obriga família a "conter" os gastos
"Este ano, fomos muito mais contidos nos gastos", admite Cláudia Correia. A gaiense, de 43 anos, não passou mais de 20 minutos no GaiaShopping, com a família, a comprar o que faltava para fazer os doces tradicionais. "Começámos a tratar das prendas a meio do mês e comprámos tudo", diz o marido, Ricardo Martins.
Certo é que a inflação terá, na noite da consoada, um lugar invisível à mesa. "Cortámos nas carnes. Estão muito caras", confessa Cláudia. E até a filha do casal, Rita Martins, não pediu nada em especial. "Se não me derem prendas não faz mal", revela.