Evento em Braga recebeu Marta Nogueira, a jovem que sobreviveu a uma tentativa de homicídio. Inauguração contou com multidão.
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Marta Nogueira, a "menina-milagre" de São João da Pesqueira, que sobreviveu a uma tentativa de homicídio, em 2015, por parte do ex-namorado, foi a figura central da inauguração do Presépio de Priscos, que no domingo levou uma multidão àquela freguesia de Braga. Com passo lento, mas sem desistir, a jovem de 29 anos caminhou por entre os 90 cenários, a convite do mentor da iniciativa, padre João Torres, que, este ano, quis colocar na agenda do Natal uma reflexão sobre a violência no namoro.
"As pessoas, muitas vezes, confundem amar alguém com possuir. Mas amar é proteger e cuidar. No período do Natal até é muito natural que os namorados ofereçam presentes. Oferecer um perfume e depois querer controlar quando o vai usar, em que circunstâncias, massacrar e perseguir, deve-nos fazer pensar", justificou o pároco, sob olhar atento dos visitantes, mas também de Marta Nogueira, que preferiu não insistir no assunto, mas elogiar antes o presépio, que considerou "muito bonito".
Já a mãe da jovem não fugiu ao tema, para dizer que vive dias difíceis, para ajudar a filha a reverter os danos causados por duas balas alojadas na cabeça. "Todos os dias temos de ter força para caminhar. Tenho sempre esperança que ela vai conseguir", frisou Maria da Luz, com uma voz tímida.
A história de Marta Nogueira não deixou ninguém indiferente e, logo à chegada a Priscos, a família foi recebida com aplausos. "É muito importante alertar para esta realidade", considerou Otília Gomes, um dos milhares de visitantes que não falharam o primeiro dia do presépio vivo, que se prolonga até 15 de janeiro, aos domingos. Abre, ainda, nos sábados de 7 e 14 do próximo mês.
600 figurantes
Numa área de 30 mil metros quadrados, há, por exemplo, sapateiros, ferreiros, oleiros, serradores e várias referências às culturas egípcia, judaica, romana, grega ou babilónica. São cerca de 600 figurantes, como as irmãs Maria Alice e Maria José, que tomam conta da casa de chá e café, ou José Silva, que há 13 anos assume o papel de centurião no acampamento romano, onde, nesta edição, passou a haver "cavalos, uma casa de soldados e duas armas de guerra novas".
Os cenários ao ar livre entusiasmam miúdos e graúdos, mas ninguém dispensa uma descida à tradicional gruta onde se encontram Maria e José. Desta vez, as principais figuras do presépio, no dia da inauguração, foram representadas pelo casal Inês Araújo e José Pinto, que aguarda a chegada de um filho. "Já costumamos participar, mas não neste cenário. É um privilégio, porque nem todas as pessoas conseguem fazer esta representação histórica", refere Inês, grávida de oito meses, sempre com um sorriso pronto para as fotografias. "As pessoas gostam de falar e perguntar pelo menino", confidencia a bracarense.
Quem por ali passa, diz-se impressionado com o realismo da recriação da história do tempo de Jesus. "O trabalho que está aqui feito, seja ao nível de infraestruturas e de figurantes, é de louvar", frisa Mário Carvalho. "É uma obra muito importante, porque tem aqui muito trabalho", remata Francisco Pinto, outro visitante, ao lado da mulher, Conceição Dias.
Padre critica desinvestimento nas cadeias
"Em Portugal, temos um barril de pólvora sobre as cadeias prestes a rebentar". O alerta é de João Torres, o mentor do presépio de Priscos, que, todos os anos, recebe reclusos para ali trabalharem. O pároco critica o desinvestimento do Governo nestas pessoas e fala na necessidade de se apostar na sua reinserção "para não voltarem a provocar vítimas como a Marta".