A deslocalização de uma fábrica de vassouras com 50 trabalhadores e a demolição de 12 casas é o resultado da passagem do TGV por Santiais, Estarreja. Os moradores defendem um traçado alternativo.
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"Estamos a perder dinheiro todos os dias porque estamos num impasse e não sabemos o futuro". O desabafo é de Pedro Silva, 33 anos, um dos proprietários da fábrica de vassouras A.M. Almeida Silva e Filhos, de Barreiro de Cima, um dos lugares do núcleo de Santiais, juntamente com os lugares de Barreiro do Meio e Barreiro d'Além, que vão ser afectados pelo traçado da linha de alta velocidade (TGV) na freguesia de Beduído, Estarreja.
A fábrica, que emprega 50 trabalhadores, a laborar desde 1987, tem os dias contados se o traçado a nascente do TGV se impuser, como tudo o indica. Terá que ser demolida, assim como a casa - uma das 12 que irão desaparecer nos três lugares - da família dos proprietários que se encontra ao lado.
"Já tivemos que arrendar um armazém no Quimiparque porque com tudo isto não podemos ampliar as instalações", revela Pedro Silva.
Emparedado pela A1, A29 (em construção que obrigou também à demolição de uma casa) e prejudicado pela passagem da conduta de gás natural, que desvalorizou muitos terrenos com aptidão urbana, o núcleo de Santiais - mais de 600 habitantes - corre o risco de ser cortado ao meio pela passagem do TGV. Uma barreira de 400 metros de largo irá ser formada.
"Defendemos um traçado alternativo a um quilómetro a nascente porque assim não afecta nada", considera Pedro Silva.
A mesma opinião é partilhada por Manuel Ferreira, 60 anos, que mora em Barreiro do Meio desde 1979. "Devia avançar um pouco mais para cima, é só um bocado e não afectava ninguém", disse.
Manuel Ferreira vai ficar sem a sua casa de habitação e sem uma outra, ao lado, que foi do avô da esposa e que andou a restaurar até ao ano passado, integrando um conjunto de cinco habitações que irão desaparecer. "Ainda nem quero pensar que sair da casa", desabafou ao Jornal de Notícias. "Vamos lá ver quanto é que eles nos dão", diz na expectativa.
No Barreiro d'Além, Maria Raquel, 75 anos de idade e há 24 anos a viver no lugar, depois de uma passagem pela Venezuela, está um pouco mais descansada.
"A minha casa parece que não é afectada, mas a da minha vizinha e a do meu irmão parece que vão abaixo. Mas se a da minha vizinha for, há um bocado de terreno meu que desaparece", confidenciou, preocupada.
O marido, José Marques, mesmo que a casa não seja demolida, não está contente. "Mesmo que a casa não vá abaixo acaba-se o sossego, porque a poluição sonora tira-me o pouco juízo que ainda tenho", frisou.