Edifício no Estoril, que na década de 40 foi procurado por monarcas europeus, é a partir de amanhã a nova casa do teatro, música e dança de Cascais.
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O Edifício Cruzeiro, em Cascais, o primeiro centro comercial em Portugal, datado de 1947 e que esteve vários anos ao abandono, vai ser a partir de amanhã, sábado, uma Academia de Artes, acolhendo a Escola Profissional de Teatro de Cascais, Conservatório de Música, a Companhia de Dança Paulo Ribeiro e a Orquestra de Câmara Cascais e Oeiras (OCCO).
A festa de inauguração do icónico edifício no Estoril vai decorrer amanhã, das 15 às 20 horas, e inclui atuações dos estudantes do Conservatório, da Companhia de Dança, da Escola Profissional de Teatro e da OCCO, além de Fado, Jazz e Samba nos vários espaços da nova Academia de Artes. Contará com a presença do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, revelou esta sexta-feira ao JN a Câmara de Cascais, que investiu oito milhões de euros na reabilitação do espaço.
O Cruzeiro "constitui uma nova centralidade cultural para ser usufruída por todos e o ponto de partida da Vila das Artes que inclui um conjunto de equipamentos municipais no perímetro envolvente, como o Museu da Música Portuguesa, o Auditório Fernando Lopes-Graça, no Parque Palmela, o Conservatório de Música e Dança de Cascais, o Teatro Municipal Mirita Casimiro e o Auditório Sra. da Boa Nova, entre outros", refere o Município.
"A aposta na cultura tem um efeito multiplicador no desenvolvimento económico e na coesão social", justifica ao JN o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras.
O novo polo cultural dedicado às artes performativas tem sete pisos. Mantém a histórica fachada desenhada pelo arquiteto Filipe Nobre de Figueiredo, em 1947, mas o interior foi totalmente remodelado, resultando em diferentes espaços dedicados à área educativa, uma sala de espetáculos com capacidade para 312 pessoas, um palco com 150 m2, três camarins e uma sala de projeção.
A Escola Profissional de Teatro de Cascais vai ter 10 salas para as diversas disciplinas lecionadas e o Conservatório de Música ocupará oito. Será também a casa da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras e da Companhia de Dança Paulo Ribeiro (com dois estúdios). O Cruzeiro terá também uma ligação ao Teatro Experimental de Cascais (TEC), que vai usufruir de espaços modernos, uma reivindicação da companhia de teatro em atividade mais antiga da Europa.
A biblioteca é outra das novidades já que é totalmente dedicada às artes performativas, a partir da coleção doada por José de Matos Cruz, especializada em cinema.
Rica história
Desenhado pelo arquiteto Filipe Nobre de Figueiredo, a construção do Cruzeiro terminou em 1947, dois anos após o fim da II Guerra Mundial, tornando-se numa das maiores referências da arquitetura de Cascais. Foi visitado por muitos, incluindo monarcas europeus e gente endinheirada que ficou por Portugal no período pós-guerra.
Ao longo dos anos o espaço - que chegou a dispor de 40 estabelecimentos comerciais, um rinque de patinagem, um cinema, dancings, um salão de fado e outro de jogos - foi-se degradando. Devoluto durante vários anos, o edifício Cruzeiro esteve para ser demolido. Chegou a ter um projeto habitacional previsto pelo banco BPI, proprietário do imóvel.
Foi adquirido pela Câmara em 2016 ao Fundo de Pensões do BPI pelo valor simbólico de 100 mil euros, sendo que a autarquia só obteve "luz verde" do Tribunal de Contas para a realização de obras de requalificação em 2019. A nova vida do Cruzeiro, um edifício virado ao mar, começou a ser delineada pelo arquiteto Miguel Arruda.