Procissão do Senhor dos Navegantes é das maiores do país. São 16 andores e quase 300 figurantes. Gentes do mar uniram-se na fé e levaram milhares às Caxinas.
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"É uma procissão muito especial para nós! É a festa do mar e do pescador", diz, sem hesitar, Alexandre Milhazes, enquanto se prepara para seguir na procissão, carregando o andor de S. Pedro. Filho de pescador, hoje anda ao mar em Espanha, mas continua a cumprir o "ritual" do Senhor dos Navegantes. O cortejo religioso, um dos maiores do país, saiu este domingo à rua nas Caxinas, Vila do Conde. Os 16 andores são carregados em ombros pelos pescadores da terra. Os quase 300 figurantes são filhos e netos. Em cada rosto, a fé, o orgulho e o brio das gentes do mar.
"A devoção desta gente é única! É uma procissão muito sentida. Os andores são sempre riquíssimos e muito lindos", explica Maria da Conceição Santos, enquanto aguarda, em frente à "igreja do barco", a saída do cortejo religioso. Veio de Famalicão de propósito. O primeiro domingo de agosto é assim "há muitos anos". Pelas ruas, há milhares a ver. A Senhora da Bonança abre o cortejo: no andor, a imponente imagem, à volta, os arranjos de flores naturais em forma de enormes velas. A multidão aplaude. Quem é do mar, reza baixinho. Pede-se proteção para os que lá andam, recorda-se os que o oceano levou.
Foto: Carlos Carneiro
Foto: Carlos Carneiro
Foto: Carlos Carneiro
À frente, Carlos Craveiro comanda, orgulhoso, os 20 homens que carregam a Senhora da Bonança. Desde que a procissão foi retomada, em 1988, o mestre do "Ajudado por Deus" não "falhou" nenhuma. O ano passado, carregou o Senhor dos Navegantes, há dois anos Nossa Senhora de Fátima. Ali, manda a tradição, são os homens do mar quem leva os andores. Cada embarcação, dá à Igreja um quarto do que recebe cada tripulante ao longo do ano (os "Quartos do Senhor"). Quem der o maior "quarto" tem a honra de carregar o Senhor dos Navegantes.
"Este ano, fizemos um bocadinho menos e já não levamos o padroeiro dos pescadores, mas vamos sempre nos andores mais pesados", continua a contar, ele que, no barco, tem sempre uma imagem da Senhora de Fátima, outra da Senhora da Guia. É a elas que se agarra nas horas mais difíceis. 61 anos de vida, 47 de mar.
No dia da festa maior das Caxinas, é tempo de agradecer e pedir proteção para mais um ano. O calor é muito, são duas horas e meia a andar, mas "com fé, tudo se supera". Na marginal, os andores viram-se para o mar. Espera-se que, com a bênção divina, "para o ano, todos estejam cá".
Foto: Carlos Carneiro
Foto: Carlos Carneiro
Foto: Carlos Carneiro