Pandemia reduz para metade produção e cancela feiras. Câmaras garantem qualidade do produto nas vendas online.
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O agravamento da pandemia da covid-19 cancelou o arranque do calendário das feiras de fumeiro do país, previsto para amanhã, em Boticas. O confinamento geral, anunciado ontem pelo Governo, também deita por terra o certame presencial de Montalegre, no fim deste mês, e pode acontecer o mesmo com a de Vinhais, em meados de fevereiro. As câmaras não abandonam os produtores e apostam na venda online.
A Feira Gastronómica do Porco iria realizar-se entre amanhã e domingo. Apenas com venda de fumeiro e produtos regionais. Sem tasquinhas nem animação. Estava bem encaminhada até que, na segunda-feira, a Câmara decidiu cancelar o evento, por "não estarem reunidas as condições de segurança necessárias".
Na aldeia de Atilhó, Sebastião Fernandes e Maria José Pires, com o estendal da cozinha tradicional recheada de chouriças, salpicões, alheiras e outros derivados do porco, receberam a notícia com preocupação. "Trocou-nos bem as voltas, pode crer. Matámos os porcos, estávamos a pensar numa coisa e saiu-nos outra", dizem.
É verdade que vendem parte da produção a clientes "de todo o país" que já nem passam pela feira. Vão diretamente a casa. Mas a outra parte era comercializada no certame de três dias.
"Ultimamente, ao terceiro dia não já tínhamos o que vender", recorda Maria. Este ano, já a contar que a pandemia pudesse refrear o consumo, reduziram para metade os habituais 30 porcos abatidos para fumeiro.
Maria Vitória Baía está apreensiva. O estendal está cheio, tal como era suposto estar em vésperas da abertura da feira de Boticas. Matou menos animais este ano, pois já previa que "a pandemia ia dar nisto e podia não haver feira".
A adivinhar "menos rendimento" não resta alternativa senão fazer fé na venda através da internet, que desconfia "não ser a mesma coisa", porque o cliente gosta de "ver, cheirar e provar". Mesmo assim, "melhor que nada".
desconfiança
Na mesma aldeia, onde vive menos de uma centena de pessoas, Rosa Rodrigo, que faz fumeiro para as feiras de Boticas e Montalegre, espera igualmente "pelo que vai dar a plataforma".
A julgar pelo que se passa em casa, comprar na internet só os filhos e não são coisas de comer. "Mas não perdemos nada por testar esta novidade", que vai ser implementada pela Câmara de Boticas e pela Associação Empresarial Mais Boticas. "Pode ser que corra bem e se arranje aqui uma nova forma de escoar a produção sem perder rendimento".
Assim o deseja o presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Queiroga, que levou um "murro no estômago" quando se viu confrontado com o agravar da pandemia e o anúncio de um possível novo confinamento geral. É que a feira "é uma forma de apoiar os agricultores que têm no fumeiro uma fonte de rendimento, alguns a única".
Ora, sem pessoas para comprar não valia a pena ter outras a vender. Perdeu-se todo o trabalho executado até segunda-feira e o impacto económico indireto no comércio, restauração e alojamento do concelho, mas não restou alternativa senão fazer uma feira "exclusivamente digital", explicou ainda Fernando Queiroga.
PLATAFORMA
Garantida qualidade e segurança
A partir de hoje, é possível encomendar fumeiro e derivados do porco através da plataforma digital BoticasTem (www.boticastem.pt). O autarca, Fernando Queiroga, assegura que, além da comodidade, aquela alternativa à feira presencial dá a "mesma garantia de qualidade, rigor e segurança alimentar", pois "os serviços veterinários acompanham todo o processo". Depois de o cliente pagar, "a encomenda é entregue em 48 horas".