Câmara de Lisboa quer desocupar e demolir prédios para construir mesquita. Inquilinos recusam sair.
Corpo do artigo
Quatro comerciantes deveriam ter entregado ontem as chaves dos prédios onde têm lojas na Mouraria à Câmara de Lisboa, que os quer demolir para construir uma mesquita da Comunidade do Bangladesh. Mas uma providência cautelar interposta por António Barroso, detentor de dois imóveis e o mais prejudicado com o projeto do Município, travou o despejo. Um dos inquilinos recusou-se a entregar as chaves, outro não estava na loja no momento do despejo e um quarto viu o prazo de entrega prolongado por dois meses pelo tribunal.
O rosto de António Barroso, à janela do segundo andar, na Rua do Benformoso, reflete um pesadelo que dura há seis anos. "Puseram-me numa situação de miséria. Já escrevi ao presidente da Câmara, Carlos Moedas, a pedir para ter coragem de anular este processo ou fazer negociações sérias", diz o maior lesado, ao qual o anterior executivo expropriou dois imóveis para os demolir e construir uma mesquita. António e os seus inquilinos, de uma agência de viagens e um restaurante, foram notificados para entregarem as chaves ontem.
"A entrega das chaves terá sido evitada na sequência da providência cautelar apresentada na semana passada com vista à suspensão da execução do ato de entrega até que haja uma decisão definitiva na ação administrativa", explica ao JN Tânia Mendes, advogada de António Barroso.
"Não tenho para onde ir"
David Carvalho, gerente da garagem Almeida Navarro, localizada num prédio municipal na Rua da Palma, que também deverá ir abaixo, recusou-se a entregar as chaves. "Apareceram aí dois técnicos da câmara e eu disse que não entregava e foram embora", conta. David, que também levou a Autarquia a tribunal, não concorda com a indemnização proposta pelo Município de 290 mil euros. "Preciso disto para viver, não tenho para onde ir", justifica. A Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto e mais duas lojas, uma de bijutaria e outra de artigos para casa, na Rua da Palma, também não entregaram as chaves ontem.
Em 2015, a Câmara iniciou um processo de expropriação por interesse público para demolir cinco prédios nas ruas da Palma e do Benformoso. O projeto, tornado público em 2013, prevê a requalificação da Praça de Martim Moniz e a construção de um templo islâmico. A Câmara disse ao JN que "não tem nenhum comentário a fazer".