PS acusa Câmara de usar São Geraldo como “plataforma giratória” de dinheiro para a Igreja
O vereador do PS Adolfo Macedo acusou, esta segunda-feira, a Câmara de Braga de usar o antigo cinema São Geraldo como “plataforma giratória de distribuição do dinheiro público para a Arquidiocese”, criticando o pagamento de uma renda mensal à Igreja, desde 2017, sem que “nada tenha sido feito” no edifício.
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“Esta é uma situação que seria anedótica se não fosse trágica. A verdade é que é trágica por causa do desbaratar de dinheiros públicos após seis anos e um mês sem que nada aconteça no São Geraldo, que está em ruínas”, criticou o representante socialista na reunião de executivo camarário.
Em causa está o pagamento de uma renda mensal de 12 500 euros, por parte da Câmara à Arquidiocese de Braga, que é a proprietária do edifício do antigo cinema São Geraldo, no âmbito de um contrato de arrendamento que está em vigor desde agosto de 2017 por um período de 10 anos.
Nessa altura, a autarquia decidiu arrendar o espaço – que está devoluto e fechado há mais de 20 anos – para impedir que se concretizasse a intenção de ali ser instalado um equipamento comercial privado, com mercado e hotel, que estava a gerar muita controvérsia na sociedade bracarense.
O valor total que ficou acordado entre as duas entidades só começou a ser pago em fevereiro de 2019, sendo que até aí a autarquia pagava, num primeiro momento, 50% da renda e, a seguir, passou a pagar 75%. O acordo prevê que, em caso de compra, uma parte das rendas seja descontada no negócio.
"Meio milhão de euros que se esfumou"
Adolfo Macedo sublinhou que a opção de compra que existe no contrato “é uma ilusão”, porque “depende da vontade da Igreja e não do município”. “No total, a Câmara já pagou 765 mil euros, dos quais apenas 273 mil euros são descontados no valor de uma hipotética compra do imóvel. O resto foi diretamente para o lixo. Estamos a falar de quase meio milhão de euros que se esfumou”, acentuou.
O vereador do PS questionou o porquê de a Câmara não avançar já para a aquisição do imóvel, considerando que se o fizer “compra a preço de saldo” uma vez que “vale menos do que valerá daqui a alguns anos”, nomeadamente em 2027, quando termina o contrato de arrendamento.
Ricardo Rio garante concurso "até final deste ano"
Na resposta, o presidente da Câmara, Ricardo Rio (PSD), disse que quando a autarquia decidiu tomar conta do edifício “não havia nem uma página escrita sobre o que iria lá fazer” se não a “intenção de reaproveitar o edifício para fins culturais”, tendo sido então definida a criação de um centro de Media Arts.
Ao longo deste período, segundo o autarca, “não houve obra, mas houve aquilo que se tem de fazer nestes processos”, tendo sido realizados “estudos preliminares”, “visitas a equipamentos europeus análogos” e “validados” os projetos de arquitetura.
“O processo seguiu o seu curso e [a obra] vai para concurso até final deste ano”, garantiu Ricardo Rio, que lembrou também as complicações impostas pela pandemia de covid-19.
Sobre uma eventual aquisição do edifício, o presidente da Câmara assegurou que já foram iniciadas conversações com a Arquidiocese de Braga nesse sentido. “A valorização [do imóvel] é feita também com base no seu potencial. Estando em ruínas ou não, tem sempre um valor comercial associado”, afirmou, em resposta às interpelações de Adolfo Macedo.