O ano de 1962 mal tinha começado e o JN já noticiava uma das maiores cheias do Douro do século passado. Nas margens, o nível do rio chegou a alcançar 4.5 metros de altura, obrigando várias pessoas a abandonar as respetivas habitações nas zonas ribeirinhas do Porto e da Régua. Também em Vila Nova de Gaia viveram-se momentos de grande aflição.
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No segundo dia de janeiro começaram a surgir os primeiros sinais da catástrofe que se avizinhava. "Cerca de 70 barcaças fundeadas entre Massarelos e a Alfândega foram levadas pela corrente, muitas delas transportando valiosa carga". As tripulações tiveram de abandonar as embarcações, que estavam atracadas no Cais do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia.
O único resistente foi o capitão do vapor espanhol "Puerto de Alicante", João Saragoza, que foi encontrado morto numa praia da Póvoa de Varzim, dois dias depois.
Logo a 3 de janeiro "confirmavam-se as alarmantes previsões" anunciadas pelo JN no dia anterior. Nessa edição, as notícias davam conta das "horas de pânico vividas no rio Douro", tanto no Porto, como na Régua. A força do rio não dava tréguas, e muitos destroços foram arrastados pela corrente, "de uma rapidez nunca antes vista". Foi o dia mais crítico das cheias.
Na Ribeira do Porto, o rio atingiu o cimo dos arcos da Rua dos Canastreiros e poucos foram os barcos que resistiram à pressão da água. As comunicações entre várias localidades foram cortadas, como Avintes e Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia. Também neste concelho, "parte do Areinho desapareceu sob o rio", e a água isolou mais de 40 casas, "convertendo-as em autênticas ilhotas".
No dia 4 de janeiro, avaliavam-se os estragos e as consequências da "grande cheia do Douro", enquanto o nível das águas se mantinha estacionário. Na Régua, um enviado especial do JN ouviu os testemunhos de várias pessoas afetadas.
"Em contrapartida (e infelizmente), deixou de haver problemas de trânsito na Ribeira, Miragaia e estrada marginal de Gaia", lia-se, ainda, no rescaldo do susto.
Na edição do dia 5 de janeiro, foi notícia a reorganização das vidas nas zonas ribeirinhas do Porto e de Gaia, com o auxílio aos desalojados das inundações por parte de várias entidades. Neste contexto, o governador civil e o presidente da Câmara do Porto ganharam protagonismo.
O JN destacou a pronta colaboração na criação de abrigos de emergência, através da cedência de instalações, camas, colchões, roupas e "outros apetrechos".