A Câmara do Porto faz balanço "muito positivo" dos quarteirões turísticos criados há pouco mais de um ano. O modelo para desanuviar o centro tem despertado a atenção de outras cidades.
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Pouco mais de um ano depois da criação dos oito quarteirões turísticos no Porto, para aliviar a pressão no centro da cidade, o balanço da autarquia é "muito positivo". A Câmara está a ultimar um estudo sobre o impacto da estratégia, que chamou a atenção de cidades como Barcelona, Bilbau e Edimburgo, interessadas em conhecer modelo. A divulgação também passou por eventos internacionais no Brasil, em Hong Kong e no Japão.
A descoberta de outras zonas da cidade, a promoção de artistas e artesãos locais e a dinamização de negócios fora da Baixa e do Centro Histórico, potenciando um desenvolvimento económico mais integrado, são alguns dos benefícios do projeto, assente numa política orientadora de fluxos. Nesse sentido, tem havido uma colaboração mais estreita com os operadores turísticos. Os contactos são muito frequentes, e há ações de formação com assiduidade.
"É uma estratégia absolutamente fundamental para que o Porto seja um destino sustentável, sem atropelos e para que as pessoas possam tirar mais partido da cidade", afirma a vereadora do Turismo, Catarina Santos Cunha, sublinhando que a autarquia também trabalha "todos os dias" para garantir o equilíbrio com a qualidade de vida dos residentes.
Apesar dos milhares de visitantes que durante todo o ano enchem o Porto, Catarina Santos Cunha entende que ainda não há excesso de turismo e que essa crítica tem mais a ver com uma "narrativa ideológica". As narrativas que interessam à autarquia são aquelas que conduzem os visitantes a outras zonas da cidade, levando ao seu desenvolvimento. "Fomos precursores na procura de uma solução inovadora para a problemática da pressão turística", diz a autarquia, assinalando que a matriz dos quarteirões serviu de base "para todos os projetos desenvolvidos pelo pelouro do Turismo e da Internacionalização em prol da cidade e do setor (mais de 20)".
"Esta política pública transcende a descentralização dos fluxos e afirma-se como a matriz de uma estratégia municipal para o turismo sustentável da cidade, contribuindo para a valorização e promoção de outras zonas excêntricas da cidade, com os seus elos de ligação a Matosinhos e a Gaia", acrescenta.
Como se consegue isso? "Trabalhando áreas como a acessibilidade e a mobilidade dessas zonas menos exploradas, captando infraestruturas e valorizando recursos endógenos, criando e promovendo novas narrativas e roteiros que orientem os visitantes nessa descoberta da história e da autenticidade da cidade". A Câmara está convicta que este desenvolvimento terá impacto positivo para os residentes e para os turistas, favorecendo "o prolongamento do tempo de permanência no destino".
Municípios precisam de mais ferramentas
Foi em março de 2024 que a Câmara do Porto anunciou a criação dos oito quarteirões turísticos: Centro Histórico do Porto e de Gaia, Baixa do Porto, Foz-Matosinhos Sul, Boavista-Campo Alegre-Marginal do Douro, Bonfim e Lapa-República-Marquês, Asprela-Arca d"Água-Carvalhido-Ramalde e Campanhã-Antas.
A par da criação destes quarteirões, Catarina Santos Cunha sublinha ainda a importância de outros instrumentos na concretização da estratégia municipal: regulamento do alojamento local; regulamento dos animadores de rua; e restrição de acesso de veículos turísticos a várias artérias da Baixa e do Centro Histórico.
A autarca salvaguarda, contudo, que os municípios precisam de mais ferramentas para continuar no caminho do turismo sustentável, designadamente na regulação das tipologias dos estabelecimentos - "não faz sentido, por exemplo, ter tantas lojas de souvenirs no mesmo sítio" - e dos transportes TVDE. Catarina Santos Cunha entende que "é preciso alertar o Governo" para a necessidade de dar mais competências aos municípios nestes setores.