O quartel dos Bombeiros Novos de Aveiro ficou esta terça-feira sem energia elétrica, devido ao atraso no pagamento de faturas. Por isso, para permitir o normal funcionamento das instalações, a associação humanitária teve que recorrer ao auxílio de geradores, enquanto não regularizou a situação - o que veio a acontecer no decorrer do dia.
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O presidente da direção assume que a situação financeira "é má", mas ressalva que "muitas associações de bombeiros do país estão a passar por dificuldades".
A corporação tinha, em dezembro do ano passado, um passivo total de 925 mil euros, 200 mil dos quais correspondentes a dívidas ao Estado.
Relativamente ao corte de energia elétrica, João Albuquerque Pinto, presidente da direção dos Bombeiros Novos de Aveiro, garante que "já está tudo pago". "Foi um lapso de falta de pagamento, mas conseguimos logo resolvê-lo. Até chamei à atenção da empresa fornecedora de energia para o facto de fazerem um corte, sem aviso prévio, a uma associação de bombeiros que precisa do quartel em pleno funcionamento", frisa.
Em junho, o presidente disse-nos que as contas estavam todas bem. No dia a seguir, soubemos que estão a dever milhares de euros ao senhor que fornece as refeições do refeitório
Segundo o JN conseguiu apurar junto de elementos dos bombeiros, a situação financeira da associação está a causar mau estar na corporação. "Em junho, o presidente disse-nos que as contas estavam todas bem. No dia a seguir, soubemos que estão a dever milhares de euros ao senhor que fornece as refeições do refeitório", conta um bombeiro, que prefere não ser identificado.
As desconfianças instalaram-se no seio da corporação, constituída por cerca de 80 bombeiros. E levaram, mesmo, a motivar um abaixo assinado - subscrito por mais de metade dos elementos do corpo ativo - a pedir uma assembleia geral extraordinária, para que a questão financeira da associação fosse esclarecida. "Começou uma revolta no corpo de bombeiros e as pessoas a dividirem-se. Mas, até agora, ainda não se obteve resposta desse pedido à Assembleia", adianta outra fonte.
Salários em atraso
Atrasos nos salários e dívidas a oficinas de automóveis, entre outras, têm sido uma constante no dia a dia do quartel. Num parecer do Conselho Fiscal, datado do final do ano passado, estava claro que "o passivo total passou de 834 512,66 euros, em 2020, para 925 960,94, no ano findo". E acrescentava-se: "as dívidas ao Estado agravaram-se de 88 368,27 euros, em 2020, para 191 171,58, em 2021, resultante de atraso no pagamento de verbas devidas à Segurança Social e ao Fisco".
O Conselho Fiscal alertava, mesmo, a associação a tomar "medidas imediatas", "sob pena de comprometimento da prossecução da sua atividade".
João Albuquerque Pinto assegura que, apesar da situação financeira débil, "há planos de prestações feitos" para pagamento das dívidas. E diz, também, que "a Liga Portuguesa dos Bombeiros, assim como a Câmara de Aveiro têm conhecimento da situação". "Temos que passar a vida a pedinchar a parceiros. Mas uma coisa é certa: aqui não se gasta um tostão a mais do que é devido e há rigor", declara.
O desconforto do corpo dos Bombeiros Novos, ao que tudo indica agravou-se, também, com a incerteza no futuro do comando, depois da demissão de comandante de Ricardo Fradique, que assumiu funções de segundo comandante operacional distrital, da Autoridade Nacional de Proteção Civil.