Câmara da Mealhada procura financiamento para obra que visa preservar memória e atrair pessoas.
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A reabilitação do "Chalet Suisso", um edifício construído no final do século XIX, em frente à estação de caminho de ferro da Pampilhosa, Mealhada, vai custar 1,92 milhões de euros e deverá ficar pronta dentro de um ano. Será destinado à cultura, garante a Autarquia, que já adjudicou a obra.
António Jorge Franco, presidente da Câmara, guiou o JN pelo interior do imóvel, realçando a importância de impedir a sua ruína e salvaguardar a história. Estava devoluto e foi adquirido há meia dúzia de anos pelo anterior executivo.
O atual edil, que ganhou as últimas eleições, concorda com a urgência da reabilitação e lançou a obra. Não tem financiamento assegurado para além do orçamento municipal, mas irá agora procurar "apoio de fundos nacionais ou europeus". Quanto ao destino final, vai ser alterado. "Somos a favor da recuperação, mas a finalidade não será a que estava prevista. Era para ter sedes de associações, mas nós entendemos que deve funcionar como um todo e ser virado para a cultura e o turismo, para que as pessoas o possam usufruir e conhecer a história", referiu.
A ideia, explica a arquiteta Paula Leitão, é manter a "identidade do edifício e preservar o máximo de elementos originais", nomeadamente o chão em madeira, os tetos trabalhados, os "fingidos" (imitação de mármore) nas paredes e os frescos, pinturas de paisagens e cenas suíças, na sala.
Demolição de anexos
Os anexos e acrescentos construídos posteriormente, que desvirtuam a traça do Chalet, serão demolidos. Na parte traseira, será construído "um novo volume em betão aparente", que funcionará como sala polivalente, e ajudará a "dar resistência" ao edificado.
Aproveitando parte terreno atrás do imóvel, será criado um acesso pedonal desde o estacionamento do mercado, permitindo acesso direto à estação e ao centro da localidade.
Este é, diz António Jorge Franco, um passo importante para valorizar a Pampilhosa e torná-la mais "atraente" a quem chega à estação de comboio em frente.
Armando Bonifácio, empresário de táxis há 60 anos, que tem ali praça, ainda se lembra do "movimento" da estação e da hospedaria e não esconde a satisfação. Na cave da casa, recorda, funcionava "uma adega", que complementava o restaurante da estação.
Família real
O Chalet, mandado construir pelo suíço Paul Bergamin, tinha como objetivo alojar viajantes que usavam a linha de caminho de ferro. Fazia parte de um conjunto de edificações perto da estação, que incluíam ainda a casa de telégrafo e postal, padaria, armazéns, entre outras. Nele terá pernoitado a família real, durante as viagens pela Beira ou com destino ao Bussaco. Terá sido usado em 1886, quando D. Carlos esteve na Pampilhosa para receber a noiva, D. Amélia.
A construção tornou-se um "ícone da Pampilhosa", diz o presidente de Junta, Mário Rui Cunha, explicando que há muito deixara de ser hospedaria. Nos últimos anos foi residência particular e, há umas décadas, ficou devoluta e a degradação acentuou-se.
O presidente da Câmara adiantou ao JN que gostaria de adquirir, também, o edifício do telégrafo, propriedade de particulares, que está devoluto. "Está no horizonte recuperar todo o património que seja uma mais-valia histórica para a Pampilhosa e concelho. Vamos analisar a possibilidade de aquisição e recuperação ou uma parceira para incentivar a recuperação e integração na comunidade", garante António Jorge Franco.
Números
135 anos de existência: Terá, aproximadamente, o imóvel, que foi construído pouco depois da família Bergamin se instalar na estação da Pampilhosa. Tem arquitetura suíça, país de origem do patriarca Paul.
365 dias é o prazo de execução da empreitada, adjudicada no final de dezembro pela Câmara. Inclui a recuperação do imóvel original e ampliação, com a construção de um novo volume nas traseiras.