Um camião carregado de carne galgou, ontem, o muro de protecção de um declive com cerca de seis metros, na estrada que liga Valpaços e Mirandela. O condutor terá tido morte imediata. O outro ocupante sofreu apenas ferimentos ligeiros.
Corpo do artigo
O acidente ocorreu cerca das 9.40 horas, junto à ponte de Vale de Telhas, em Mirandela. À saída de uma curva, o pesado, uma viatura do Matadouro de Vinhais, carregada com 25 carcaças, entrou em despiste, arrastando a carroçaria vários metros sobre o muro de protecção do declive. Mais ou menos a meio do muro, tombou. Caiu virado ao contrário.
"Eu vi o precipício à minha frente, a minha sorte foi parar!", contou, ao JN, António Correia, que seguia na direcção contrária e testemunhou o acidente. Depois de accionar o 112, António correu para junto do muro de protecção. "Chamei, chamei, mas ninguém me respondia. Não fui lá baixo porque estava sozinho", recordou. No entanto, ao que foi possível apurar, o ocupante que saiu com vida saiu do camião pelo próprio pé para pedir auxílio. "Veio a andar até apanhar rede no telemóvel para me ligar", contou, ao JN, o chefe de serviços do matadouro, José Urbino Alves.
O funcionário, com 37 anos, terá tido noção de que o seu colega, de 51 anos, já estaria sem vida. "Ele disse-nos que só lhe via um braço", recordou, consternado, José Urbino Alves. O resgate do cadáver foi, de facto, complicado, uma vez que a cabina do camião do lado do condutor estava completamente amassada. Para retirar o corpo da amálgama de ferros, os Bombeiros de Valpaços demoraram quase três horas. Depois, o corpo foi içado por uma grua até à estrada.
Duas gruas
Complicada revelou-se também a retirada do camião. Já havia uma grua no local e era ainda aguardada a chegada de uma outra. A estrada esteve com o trânsito condicionado várias horas.
Segundo o chefe dos serviços do matadouro, a vítima, Orlando Barreira, natural da aldeia de Travanca, Vinhais, era um condutor experiente e estava habituado àquela estrada. "Faziam este percurso duas vezes por semana. Uma semana conduzia ele, outra semana o colega", recordou, revelando que o funcionário já trabalhava na empresa há nove anos.
Ontem, antes de pegar no camião, já tinha feito uma descarga de carne em Vinhais com um carro mais pequeno. Depois, ele e o colega arrancaram para mais uma manhã de distribuição de carne por talhos de Valpaços e de Chaves. A rotina acabou por ser interrompida com o trágico acidente.
"Coitado! Eu almoçava tantas vezes com ele", lamentava, no local, um amigo. Outras pessoas que acorreram para ver o aparato maldiziam a estrada (EN206), "estreita, com muitas curvas, e com muita inclinação".
Apesar de ninguém avançar com as possíveis causas do despiste, não está afastada a possibilidade de ter havido excesso de velocidade, já que havia marcas de travagens na via.
* COM FERNANDO PIRES