Despejados regressam às antigas casas, arrombam-nas e continuam a viver lá. Vizinhos temem represálias.
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As queixas de perturbações e vandalismo no bairro do Cabo-Mor, em Gaia, tornaram-se regulares nas autoridades locais, mesmo depois de, no ano passado, terem sido despejadas algumas pessoas que ocupavam apartamentos ilegalmente e apontadas pelos vizinhos como autoras de parte dos desacatos. Barulho fora de horas, tiros e ameaças são as acusações mais frequentes dos moradores e vizinhos que vivem esta realidade há anos.
"Isto aqui é o lado podre de Gaia", alegou uma moradora ao JN que, tal como os restantes, pediu anonimato com medo de represálias. "São festas que começam à hora do jantar e acabam às sete da manhã. Muitos até vão trabalhar sem dormir", continuou. As queixas feitas ao longo dos anos são comunicadas à Câmara de Gaia e à PSP local. Ainda assim, são vários os testemunhos que declaram um impacto fraco das forças públicas no local: "já fiz várias queixas, porque também me afeta. Há até um homem que está a viver no apartamento do qual foi despejado. Chamámos a Polícia, mas não foi feito nada", contou outra moradora.
Insultos e ruído
A Câmara Municipal adiantou ao JN que, de facto, "chegam à Câmara alguns relatos dos munícipes de situações de ruído, vandalismo, insultos e outros eventos que, por vezes, tornam a convivência menos salutar do que seria desejável". As situações, que são reportadas à PSP, segundo o Município, são tratadas por aquela entidade em conjunto com a Polícia Municipal de Gaia sempre que necessário.
Os contactos regulares e denúncias de atos de vandalismo também foram confirmados pela PSP, porém aquela força de segurança adianta que, "apesar de haver cidadãos a denunciar estas situações, não há registos de participações criminais formalizadas".
No entanto, a PSP confirmou estarem "a ser pensadas soluções e trocas de comunicação constantes" para que a situação deixe de ser tão regular. "Estamos a tentar arranjar soluções, com patrulhamentos mais próximos, por exemplo. Em situações que somos chamados ao local, muitas vezes não podemos invadir os espaços sem mandados judiciais que, por sua vez, têm de ser tratados com a Câmara", esclareceu a mesma fonte.
Crianças intimidadas
Os problemas sentidos no local estendem-se também a outras pessoas, como famílias das crianças que frequentam as duas escolas ao lado do bairro. Uma das fontes avançou ao JN que a sua filha "chegou a ser abordada e intimidada no local".
Após terem ocorrido quatro assaltos na freguesia de Mafamude, próxima do local, no dia 28 de maio, as preocupações continuam para os que ali vivem e frequentam as redondezas do local, com medo de serem alvo de problemas idênticos.
IHRU prepara-se para desalojar onze famílias
Em junho de 2021, o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) iniciou um processo de desocupação de 11 frações tomadas ilegalmente. O JN, que tentou contactar aquela entidade várias vezes, sempre sem sucesso, apurou que sete foram desocupadas no ano passado. Segundo o diário "Público", neste ano, mais duas foram desocupadas e outras duas frações estão ocupadas. O IHRU, entidade responsável pelo bairro, defende desde o início do processo que devem ser seguidas as formalidades nos pedidos de habitação social.
Pormenores
1958 - origem do bairro
Ano em que foi construído o bairro, após o surgimento do Programa de Casas de Renda Económica, durante o Estado Novo. Situado na freguesia de Mafamude, o bairro de seis edifícios tem no total 72 apartamentos.
Constrangimentos
Estabelecimentos abordados agressivamente declaram que as situações duram há anos. Alguns tiveram de se adaptar, como o caso da venda de álcool condicionada a determinadas horas, para evitar atritos.