Quem tem carro vai a Vigo, que "é mais rápido" e quem não tem vai "andar às voltas nas ambulâncias" - é desta forma que Carla Natal, uma das utentes do Centro de Saúde de Valença do Minho, resume as consequências do encerramento das urgências.
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Há um mês, quando o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Valença já tinha encerrado no período diurno, a filha de Carla Natal partiu um dedo do pé - e foi a Vigo que as duas foram para o tratar.
"Fui a Vigo. Foi muito mais rápido. Decidi ir directamente a Espanha. Se chamarmos uma ambulância, ela leva-nos para o Centro de Saúde de Monção e só ali é que somos encaminhados para o Hospital de Viana do Castelo, que fica a 45 quilómetros daqui. Enquanto andamos nas ambulâncias de um lado para o outro, fica mais rápido ir a Espanha", observa a utente, em declarações à Lusa.
Carla Natal passou toda a noite à porta das urgências desactivadas às 24 horas de domingo, onde cerca de meia centena de valencianos permanecem, para simbolicamente impedir o fecho das portas do serviço.
"As pessoas vão optar por ir a Vigo. Os mais carenciados é que se vão sujeitar a andar de ambulância para trás e para a frente. O fato de Valença ser uma cidade e não ter urgência é escandaloso. Tínhamos urgência... Valença passa a cidade e tiram-nos a urgência!", lamenta.
"Não fecha!" é, agora, a palavra de ordem dos utentes que estão concentrados no Centro de Saúde e que prometem não arredar pé - a não ser para o protesto das 18 horas, altura em que uma caravana automóvel promete deslocar-se em marcha lenta na autoestrada que vai para Tui, com o objectivo de bloquear o acesso à fronteira.
Maria José Ribeiro, de 74 anos, lamenta que os valencianos tenham, com este encerramento, de se deslocar a Monção, para serem "atendidos em contentores".
"Ir a Monção, nunca!", garante, dizendo preferir "Vigo ou Viana" e reclamando que a ministra da Saúde e o secretário de Estado "dêem a cara a enfrentem os valencianos".
Eugénia Cunha passou toda a noite em vigília e garante que vai continuar "até ser preciso".
"Enquanto não nos devolverem as urgências, não saímos daqui. Não fecha! A minha mãe é muito doente e quero ter aqui urgência para ela e para todas as pessoas que precisam. Podem ocorrer situações que não dêem tempo para chegar a Monção. Enquanto as urgências não estiverem abertas não saímos daqui. Nem que seja uma semana, duas semanas ou um mês", assegura.
Rui Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de Fontoura, a sul de Valença, alerta que aquela zona dista "dez quilómetros" de Valença e que, portanto, a população da freguesia tem de enfrentar "30 quilómetros para chegar a Monção".
"E se houver dois ou três casos em simultâneo, como vão resolver o problema", questiona o autarca, lembrando que o concelho "tem pessoas cada vez mais idosas, pelo que precisa de cada vez mais serviços".
Dezenas de utentes estão desde domingo concentrados junto ao Centro de Saúde de Valença, numa manifestação contra o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente (SAP).
Os manifestantes têm prevista para as 18 horas de hoje uma caravana automóvel de protesto no percurso da autoestrada que liga Valença a Tui, com o objetivo de "bloquear o trânsito na fronteira" com Espanha, disse à Lusa Carlos Natal, porta-voz da comissão de utentes.
A Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte justificou o encerramento do SAP de Valença com o facto de estarem cumpridos "integralmente" os requisitos previstos nos protocolos com as autarquias assinados em agosto de 2007.
Em comunicado, a ARS Norte refere que decidiu encerrar o SAP e alterar os horários dos centros de saúde de Arcos de Valdevez, Paredes de Coura, Melgaço, Valença e Caminha por estarem "cumpridos, integralmente, os requisitos constantes dos protocolos assinados entre as câmaras municipais dos concelhos referidos e esta ARS".
Segundo a ARS Norte, a decisão, que entrou em vigor domingo, teve "parecer favorável do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho" e a "concordância" da ministra da Saúde, Ana Jorge.