Números têm vindo a aumentar de ano para ano. Em 2024, houve 133 mil carros por dia a circular e registaram-se 608 sinistros.
Corpo do artigo
Um acidente na Via de Cintura Interna (VCI) nunca é "só chapa". Por mínimo que seja o toque, a via fica entupida e os efeitos fazem sentir-se por toda a cidade. O presidente da Câmara do Porto já fez o diagnóstico: "A capacidade de escoamento da VCI está esgotada. Cada vez que há uma interrupção na VCI, seja um acidente ou uma avaria, a cidade entra em trombose". É fácil perceber, por isso, as dores de cabeça dos milhares de automobilistas que todos os dias têm que usar a via: em 2024, só até outubro, registaram-se 608 sinistros, segundo informou a autarquia, questionada pelo JN. Números que confirmam a tendência crescente dos últimos anos: 417 em 2000; 482 em 2021; 524 em 2023.
A sinistralidade acompanha o aumento de tráfego, que no ano passado voltou a bater recordes em alguns troços da VCI. Entre o Freixo e as Antas e entre a Arrábida e a Boavista nunca tinha havido tantos veículos a circular. E nos restantes troços a média ficou bastante próxima de 2018 e 2019, anos de pré-pandemia, que também registaram volumes máximos de tráfego.
Aliás, só a covid-19 aliviou, de facto, os congestionamentos na VCI. As medidas preconizadas pelo Estado e pelas autarquias tardam a ser concretizadas, designadamente aquela que vem sendo apontada como uma das mais urgentes: isenção de portagens aos camiões na Circular Regional Exterior do Porto (CREP), com a expectativa de retirar da VCI o trânsito de atravessamento de milhares de veículos pesados. Outras medidas têm vindo a ser tomadas, por exemplo ao nível da sinalização e do controlo de velocidade, mas o cenário de confusão permanente na Via de Cintura Interna eterniza-se.
Sempre a subir
Fazendo as contas com os dados de tráfego disponibilizados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes, verifica-se que, em média, no ano passado circularam mais de 133 mil carros por dia entre as pontes do Freixo e da Arrábida. E é no troço entre a ponte do Freixo (que consolidou a supremacia em relação à Arrábida) e as Antas que o aumento tem sido mais significativo, analisando os dados referentes aos últimos 10 anos. A subida só não é mais significativa porque, explicam os especialistas, a VCI já está no limite. É praticamente impossível ter mais carros sem entrar em colapso total, com os efeitos a transbordarem para as ruas do Porto e para vias afluentes, como a A28 ou a A4 e a A3, também já de si bastante congestionadas e com trânsito compacto, sobretudo nas horas de ponta.
Desde 2020, com o alívio das restrições impostas por causa da pandemia de covid-19, o tráfego médio diário na VCI tem aumentado de ano para ano em todos os troços. Mesmo com todas as medidas implementadas e previstas para aliviar o caos na VCI, especialistas em mobilidade apontam que só uma aposta efetiva no transporte público poderá solucionar o problema, desincentivando o uso do automóvel particular.