Proposta da Câmara terá impactos negativos. Perder-se-á mais tempo no trânsito e será gasto mais combustível.
Corpo do artigo
A redução dos limites máximos de velocidade nas vias de Lisboa em dez quilómetros por hora, proposta aprovada a semana passada na Câmara de Lisboa, vai custar 214 milhões de euros. A previsão é de um estudo da consultora BA&N Research Unit, que analisou os impactos económicos e sociais desta medida.
A proposta da Iniciativa Livre, aprovada contra a vontade do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, prevê a redução nas vias de 50 quilómetros/hora para 40 e de 80 km/h para 70, assim como mais zonas de circulação de 30 km/h.
Segundo a análise da BA&N Research Unit, "esta redução da velocidade máxima prolongará os tempos de viagem dentro da cidade", com os condutores a perderem mais 29 horas por ano no trânsito e terá um custo de 214 milhões de euros. "Tendo em conta que em Lisboa circulam cerca de 500 mil veículos diariamente e que as distâncias percorridas por cada um no concelho superam os 15 quilómetros diários, o custo económico estimado destas medidas supera os 200 milhões de euros", lê-se no estudo enviado ao JN.
Inquérito à mobilidade
As projeções da consultora baseiam-se num inquérito à mobilidade nas Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa realizado pelo Instituto Nacional de Estatística. Ainda segundo estas estimativas, as medidas aprovadas pela Autarquia contribuirão para o aumento das emissões de gases. "Terão um impacto negativo a nível ambiental caso não exista uma redução do tráfego rodoviário e um aumento significativo da fluidez do trânsito". De acordo com um estudo realizado pela agência francesa Cerema, citado neste documento, "tendo em conta o parque automóvel do país em 2020, uma redução da velocidade de 50 km/h para 40 km/h implicaria um aumento do consumo de combustível em 7% e um aumento das emissões de CO2 em 6,8% nos veículos ligeiros e 10,4% nos pesados".
"Ao reduzir as velocidades permitidas os tempos de viagem aumentam, levando a uma maior permanência dos veículos na via. Esta sobreocupação poderá provocar, consequentemente, mais congestionamentos de tráfego, potenciando os efeitos negativos da medida a nível ambiental, económico e social", refere.
Em Lisboa, "o consumo anual de combustível aumentará em 23 litros, implicando um sobrecusto para cada veículo de 42,54 euros". "A velocidade ideal" para minimizar as emissões poluentes situa-se entre os 60 e os 80 km/h, apontam.
A consultora alerta ainda para o facto do impacto da medida ser "previsivelmente muito superior", uma vez que a redução da velocidade máxima afetará ainda "transportes públicos como autocarros, táxis ou TVDE, e os serviços de entregas e logística".
Contestação
ACP interpõe providência cautelar
O Automóvel Clube de Portugal (ACP) vai entregar, esta semana, uma providência cautelar contra as mudanças do trânsito aprovadas pela Câmara de Lisboa. "Quero impedir que estas decisões sejam tomadas sem haver estudos que as fundamentem", explicou ao JN o presidente da ACP, Carlos Barbosa, para o qual "a redução da velocidade não pode ser feita aleatoriamente". "Há ruas em que se vai manter e outras aumentar, mas isso só se pode fazer com estudos de tráfego feitos por profissionais. Não podem ser decisões políticas e guerras entre a Esquerda e a Direita", considerou. Carlos Barbosa diz ainda que "não quer que o trânsito seja cortado na Avenida da Liberdade aos domingos e feriados", medida também aprovada, "para se promoverem feiras e almoços (de um hipermercado)". "É uma zona nobre da cidade e deve ser protegida".
Mais dados
21 radares vão ser ativados pela Autarquia em 17 locais a partir de 1 de junho e no âmbito do programa "Lisboa+Segura". Outros 20 serão colocados em 13 artérias. É um investimento superior a dois milhões de euros.
Associação contra
O fecho da Avenida da Liberdade ao trânsito aos domingos terá um impacto negativo estimado de 18 a 20% na atividade económica local, sobretudo no setor do turismo, disse ontem à Lusa Pedro Leal, da Associação Avenida da Liberdade, depois de reunir com o presidente da Câmara de Lisboa.