Seis centros comerciais de primeira geração, com localização privilegiada no Centro Histórico de Braga, mas sem clientes e lojistas suficientes para lhes dar vida, vão passar a ter uma identidade única, através da marca "Reencontro".
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Foi a solução encontrada pela Câmara e Associação Empresarial de Braga (AEB) para reativar estes espaços criados entre os anos 70 e 80 do século passado, que perderam atratividade e transformaram-se numa espécie de shoppings-fantasma.
"Reencontro: no centro de novo" será o mote para um conjunto de campanhas e ações de promoção dos centros comerciais Avenida, Santa Bárbara, GoldCenter, Santa Cruz, Rechicho e Granjinhos. Apoiados por uma empresa de comunicação, os lojistas serão desafiados a assinalar datas relevantes para o comércio, como o Natal ou Dia dos Namorados, mas também a transferirem os negócios para os meios digitais, de forma a potenciar as vendas. "Vamos ajudá-los a promover os produtos", garante a empresária Sílvia Correia, sublinhando que mesmo os comerciantes mais antigos "mostraram-se motivados".
investir é um problema
Segundo o diretor-geral da AEB, Rui Marques, atualmente "há uma presença muito incipiente destas lojas nas redes sociais". A isso soma preocupações com a degradação dos edifícios. "Poderiam ser alvo de processos de reabilitação que os tornassem mais atrativos, mas a fragmentação da propriedade e falta de capacidade de investimento dificultam esses processos", justifica.
Altino Bessa, vereador da Câmara, reconhece a necessidade de intervenção, mas diz que "não há enquadramento legal" para investir dinheiro público em espaços privados.
Precisávamos era de apoios para fazer obras"
Quem entra no centro comercial Rechicho, na Rua do Raio, em Braga, não fica indiferente à loja de brindes de Luís Gonçalves. Está ali "há mais de 30 anos" e, apesar da localização "privilegiada", junto a vários serviços, os clientes já foram mais. Diz que é preciso arranjar a fachada "muito degradada", fazer pinturas, renovar as casas de banho. À porta, "falta estacionamento gratuito" ou "mais paragens de autocarro".
"Tudo o que são iniciativas para dinamizar os espaços é positivo. Mas precisávamos era de apoio para fazer obras", assume Luís Gonçalves, admitindo que os lojistas "não têm margem" para assumir grandes empreitadas.
No Shopping Santa Cruz, Ana Lúcia Barata adianta que a administração do condomínio "já tem dinheiro" para recuperar a fachada que, ainda há uma semana, se desfez mais um pouco. Mas o processo está preso na Câmara. "Aceitaram que fizéssemos o desenho da fachada, arranjámos um arquiteto e a proposta já foi apresentada há um mês", conta a proprietária da Boutique Voltagem.
Na porta ao lado, Sara Lopes partilha os mesmos lamentos. "Este centro comercial está no melhor sítio da cidade e não fazem nada por isto. Eu acho é que nos querem despejar", atira a comerciante, sublinhando que "se não tivesse já uma carteira de clientes não sobrevivia". "Na última semana, caíram vidros da fachada. As pessoas até tinham medo de entrar", acrescenta, com loja cheia de artigos, mas vazia de clientes.
"As pessoas já só vêm ao centro da cidade para comer, beber e tirar fotos. Estes shoppings estão ultrapassados. Só vão aparecendo os clientes habituais", atesta Aniceto Gonçalves, do GoldCenter.
Segundo um estudo realizado no âmbito do programa "Ativar Braga", entre galerias e centros comerciais, contam-se 12 edifícios comerciais de primeira geração no Centro Histórico. Destes, nenhum apresenta uma taxa de ocupação de lojas a rondar os 100%. Apenas dois shoppings têm um valor inferior a 20% de lojas fechadas (o Avenida e o Estação). Os restantes têm mais de um terço das lojas desocupadas.