Bernardino Vieira Lopes tem 78 anos e começou a feirar aos dez. No próximo ano promete deixar o negócio.
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Começou aos dez anos a ajudar a vender fatos de terra em terra na firma "Cardoso da Saudade" de Braga. Aos 18 criou o seu próprio negócio, a empresa "Lopes Sameiro", e passou a vida e vender farpelas a noivos, aos pais e irmãos destes, a mordomos de festas e romarias, e a homens que trabalham de fatiota, como bancários e afins.
Bernardino Vieira Lopes de 78 anos (faz 79 em 7 de dezembro), natural de Penafiel e residente em Monção, continua na estrada pelo Minho. Espera completar números redondos para arrumar os fatos de vez.
"A família já me pediu para deixar, mas eu quero fazer 70 anos [de feira]. Será para o ano quando fizer 80 anos [de vida]", diz ao JN, numa manhã soalheira na feira de Ponte da Barca. "São muitos anos disto. Chuva e vento. Muitas molhadelas, muitas secadelas, muito suor e as pernas para trás e para a frente, carrega e descarrega. Já chega", frisa.
Percorreu as principais feiras de norte a sul do país. Recita de cor os dias de semana de cada uma.
"Já vendi milhares de fatos. Casei muita gente. Quantas vezes vendi ao pai, depois aos filhos e aos que vieram a seguir para as comunhões solenes. E depois esses netos quando iam casar diziam: vamos ao "Lopes Sameiro" porque foi ele que me vendeu o fato da comunhão", conta, referindo que "nos bons tempos" chegou a ter "uma espécie de autocarro com 13 metros".
Foi pai de quatro filhas (Ivone, Sameiro, Cristina e Carla) e avô de oito. Divorciado da mãe das filhas, é agora a segunda mulher, Maria da Conceição, de 66 anos, que o acompanha de feira em feira. "Eu vendo e ele guarda as notas", brinca a feirante, enquanto lhe entrega dinheiro para juntar ao maço que este guarda no bolso. Percorrem as feiras de Monção, Melgaço, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Cerdal (Valença).
"Lopinhos" para amigos
Na carrinha carregada com um fato de cada cor (cinzento e azul são os que têm mais saída) dos números 48 ao 62, "Lopinhos" como é conhecido pelos parceiros, guarda fotografias a preto e branco da sua meninice.
"Gostava de ver aqueles propagandistas da "banha da cobra" no mercado que ficava mesmo em frente à escola onde eu andava. Comecei a ir com eles nas férias e ganhei gosto. Mal fiz a quarta classe em 1952, já estavam à minha espera em Braga no "Cardoso da Saudade"", recorda, concluindo: "Os meus pais deixaram-me ir. Era outro tempo. Éramos sete irmãos e assim eu era menos uma boca a comer em casa".