Contas de centenas de euros levam morador de Gondomar a apresentar providência cautelar. Indignação dos munícipes sai à rua sexta-feira à tarde.
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José Neves não encontra explicações. Vive em Gondomar e, desde o ano passado, já recebeu três faturas de água com valores "exorbitantes". A primeira refere-se a outubro de 2019 e tem um valor de 594,87 euros. As restantes duas correspondem aos meses de junho e agosto deste ano. Ambas superiores a 300 euros. O morador garante ter reclamado nas Águas de Gondomar, uma vez que o consumo médio mensal do agregado familiar ronda os 50 euros. Os problemas com o tarifário da água no concelho não param, com os munícipes a reclamarem dos valores elevados. Para amanhã à tarde está marcada uma manifestação de protesto junto à Câmara.
Para despistar possíveis fugas, José contratou um picheleiro mas nenhum problema foi detetado, levando o morador a acreditar que o problema possa ser do contador.
Questionada pelo JN, a Águas de Gondomar garantiu que, relativamente à fatura do mês de outubro e "após o cliente apresentar reclamação face ao valor apresentado", "foi efetuada uma visita ao local não tendo sido observado qualquer anomalia no contador, nem detetado algum erro no registo da leitura". No que toca às contas de junho e agosto deste ano, a empresa disse "não possuir qualquer registo de reclamação efetuado pelo referido cliente". Informou ainda que "todas as reclamações devem ser feitas em sede própria", sendo que a empresa "disponibiliza diversos meios".
Câmara "Amarrada"
Em outubro, confiante de que a situação seria "pontual", José Neves acabou por liquidar a conta. Nos meses seguintes, entre novembro e maio, as faturas regressaram aos preços normais. No entanto, em junho, o morador voltou a ser surpreendido com uma conta de 334,55 euros. A situação repetiu-se em agosto, mês em que a família gozou 15 dias de férias fora de Gondomar. Desta vez, o valor ronda os 341,19 euros.
José Neves interpôs uma providência cautelar para não pagar as contas de junho e agosto e evitar o corte da água até que a situação seja resolvida. Garantindo não ter conhecimento de situações semelhantes à de José Neves, a Câmara de Gondomar reconheceu "o elevado preço da água no concelho" e afirmou estar a trabalhar "numa possível solução para os munícipes" para reduzir o valor. No entanto, diz ser "muito difícil" por estar "amarrada" a um contrato com a Águas de Gondomar, "efetuado pelo anterior presidente, e que vigora até 2031".
Ressalvando que a água no concelho é das mais caras da Área Metropolitana do Porto, o Movimento Cívico em Defesa dos Interesses dos Consumidores das Águas em Gondomar diz ter conhecimento de casos semelhantes ao de José Neves e que revelam "algumas incongruências na faturação". "A água está cara em Gondomar", sublinhou João Garcia, porta-voz, explicando que um dos objetivos do grupo passa por "começar a preparação da reversão" da privatização do serviço". "Temos noção que é um bocado inconsciente rescindir já a concessão, mas queremos que um bem essencial, como é a água, seja gerido pela esfera pública", disse.