Após largas décadas a serem tratados como esgotos, com descargas poluentes de empresas e efluentes domésticos, de perderem os seus leitos de cheia para construções clandestinas resultantes de más avaliações nos licenciamentos, os rios e ribeiros do Grande Porto começam a ganhar vida.
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A situação ambiental está longe da desejada, mas os municípios começam a despertar para as mais-valias destes cursos como espaço de lazer e de aproveitamento turístico.
Para já, as intervenções realizadas ou projetadas não passam de operações de cosmética. As margens dos principais rios estão a ser requalificadas, através da criação de novas zonas verdes, áreas de desporto, de lazer e repouso. O investimento em estações de tratamento é uma realidade que só agora começa a dar frutos. Tanto os rios Leça como o Tinto, considerados em tempos dos mais poluídos da Europa, apresentam águas mais claras, mas a vida custa a voltar.
Leça com corredor verde
Em Leça do Balio, as recordações de um rio Leça límpido onde se podia tomar banho e pescar são muito remotas. "Não é do meu tempo, mas a minha mãe falava muito do rio estar limpo, de lavarem a roupa aqui, de tomarem banho e dos piqueniques", diz Sandra Tavares, que reside na Rua de Sousa Prata, junto à Ponte dos Ronfes. Também Ana Moreira, que para ali foi morar em 1976 e explorar o moinho, hoje desativado, relembra já "o lixo e o cheiro a ácido que saía da água e que fazia arder os olhos".
Os municípios de Santo Tirso, concelho onde o Leça nasce, Valongo e Matosinhos delinearam um projeto para devolver o rio à comunidade". Trata-se da criação de um corredor verde de 18 quilómetros. "O projeto prevê a integração no corredor ecológico de elementos lúdicos capazes de promover o recreio das populações construindo percursos que possibilitem efetuar deslocações ou movimentos pendulares diários de forma segura, rápida e ambientalmente sustentável", explica Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos.
Exemplos do Rio Tinto
Serão recuperados 30 moinhos, plantadas espécies autóctones, as plantas invasores serão contidas, serão "criados elementos lúdicos capazes de promover o recreio das populações e haverá estabilização dos pontos de erosão fluvial, cortes e limpeza de vegetação no leito e margens. O corredor será construído em três fases e vai custar 6,2 milhões de euros. A primeira, entre a Ponte da Pedra e a Ponte de Moreira, arranca no primeiro trimestre do próximo ano.
Para além dos serviços municipais caberá ao utilizador do espaço fazer também a fiscalização. Algo como já acontece em Rio Tinto, no concelho de Gondomar. Serafim Coutinho é um adepto do passadiço que liga o parque urbano daquela cidade ao Freixo, no Porto. "É um projeto muito bem conseguido que beneficia uma zona densamente urbana", explica. Na Rua dos Moinhos, onde há mais de 70 anos chegou a haver cinco casas a moer, num total de 15 mós, António Ribeiro, de 88 anos, relembra o rio de águas cristalinas, na altura "rodeado de campos e bouças".
Em Gondomar há projetos ainda para os rios Tinto, Sousa e Ferreira, estes dois últimos no âmbito do Parque das Serras do Porto.
A construção das ETAR de Campo e Arreigada deverá trazer melhorias na qualidade da água, tal como aconteceu em Gaia com o rio Febros, que atravessa o Parque Biológico.
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O maior da AMP
O rio Leça é o maior curso de água que nasce e desagua na Área Metropolitana do Porto. Percorre 44,8 quilómetros desde a nascente no Monte Córdova, em Santo Tirso, até à foz, em Matosinhos.
Parque Oriental
A limpeza do rio Tinto, que atravessa o Parque Oriental do Porto, será um longo processo que já começou com a criação do intercetor que transporta os efluentes tratados nas ETAR.
Trilhos do Febros
São vários os trilhos pedestres ao longo do rio Febros, nomeadamente o PR1 onde se pode encontrar pontes antigas, lavadouros e moinhos.