Rodrigo Vasconcelos morreu há meio ano e, desde então, a família luta por respostas. Doente oncológico mas clinicamente estável, deu entrada nas urgências do Hospital de Penafiel a 8 de março com um abcesso e foi transferido para o Hospital de S. João, no Porto, onde acabou por falecer ao terceiro dia de internamento.
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Seis meses depois, a família desconhece as causas da morte e continua sem ter acesso ao processo clínico. A certidão de óbito aponta para uma paragem cardiorrespiratória mas a explicação é considerada insuficiente.
"Que ele parou de respirar e que o coração parou, não tenho dúvidas. O que queremos saber é o que provocou isso. Precisamos, e acho que temos o direito, de saber o que é que se passou", afirma Pedro Vasconcelos, irmão de Rodrigo.
Contactado pelo JN, o Hospital de S. João disse não comentar o caso. Também o Hospital de Penafiel não enviou qualquer esclarecimento sobre o assunto.
A família garante que nada fazia prever a morte de Rodrigo Vasconcelos. O homem, de 68 anos, recorreu às urgências do Hospital de Penafiel para tratar um abcesso que lhe dificultava a deglutição.
"Achei por bem que ele fosse ao hospital fazer soro e tomar o antibiótico por via intravenosa", recorda Helena Vasconcelos que, devido ao novo coronavírus, não pôde acompanhar o marido. Ainda assim, falavam com frequência por telemóvel. Aliás, foi o marido quem lhe disse que ia ser transferido para o Hospital de S. João, uma vez que em Penafiel "não tinham cirurgia maxilofacial".
"Fiquei apática"
"Não havia qualquer motivo de preocupação, portanto, estávamos a aguardar o que seria uma situação leve", disse Helena Vasconcelos, que no dia 11 de março acordou com um telefonema do S. João a dar conta de que o marido tinha sido encontrado em paragem cardiorespiratória. "Fiquei complemente apática. Naquela altura, não tive simplesmente reação", diz.
Foi então que a família começou em busca de respostas sobre a causa da morte de Rodrigo Vasconcelos, tendo solicitado ao Ministério Público uma autópsia ao corpo. No entanto, o pedido não foi aceite. Segundo a resposta enviada à família e à qual o JN teve acesso, o Ministério Público dispensou "a realização de autópsia médico-legal", "uma vez que são conhecidas as causas de morte e não há indícios de crime". O JN contactou o Ministério Público mas não obteve resposta.
Dos pedidos para aceder ao processo clínico, também nenhum surtiu efeito até ao momento. O primeiro foi feito online logo após a morte de Rodrigo Vasconcelos. "O hospital deu uma desculpa esfarrapada de que, ao abrigo da lei da proteção de dados, não o podia entregar aos familiares. Queriam a cédula de um médico para fazer esse pedido. Mandei o número da cédula, mas o dossiê clínico nunca saiu", lamenta Pedro Vasconcelos, frisando que a família apenas quer saber o que aconteceu.
"Não estamos à procura de vingança. Queremos saber o que aconteceu", sublinha.
Bens desaparecidos originaram queixa
Dos pertences do marido, Helena Vasconcelos diz que o Hospital de S. João apenas lhe entregou o telemóvel e a aliança. Por recuperar ficaram a carteira com os documentos e a roupa que Rodrigo Vasconcelos tinha vestida quando deu entrada nas urgências de Penafiel. "A enfermeira [que entregou os bens] disse-me que tinha sido o que a colega lhe tinha deixado e que o meu marido estava de pijama. Perguntei--lhe onde é que estava o pijama e ela disse-me que ia tentar descobrir. Deixei o meu número de telefone e quando ia no carro a caminho casa a senhora enfermeira ligou-me a dizer que não tinha conseguido encontrar nada", relatou Helena Vasconcelos, que apresentou uma queixa-crime na GNR, mas foi arquivada.