De Sialkot, lá do extremo oriente do Paquistão, bem encostado à China, a Águas Santas vão quase dez mil quilómetros em voo de pássaro. Mas não foi num livre bater de asas que Zayed chegou ao recolhimento de refugiados dos Missionários da Consolata.
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Além do paquistanês de 19 anos, oriundo do Punjab budista, contam-se na congregação cristã da Maia mais 21 histórias dramáticas destes viajantes forçados, na confluência das grandes rotas de fuga às misérias e violências do Mundo, da Ásia à África subsariana, das mais diversas origens, culturas e religiões.
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A Fundação José Allamano - batizada com o nome do beato católico italiano, Giuseppe Allamano (1851-1926), fundador dos Missionários da Consolata - acolhe 22 refugiados no antigo seminário de Águas Santas/Ermesinde. São todos jovens adultos, oriundos de dez países (Camarões, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Libéria, Nigéria, Paquistão, Senegal, Serra Leoa e Togo), todos diferentes e todos iguais na fuga a situações de vida dramáticas e em busca de um futuro melhor no eldorado europeu.
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Em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações e em articulação com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, os refugiados são acolhidos por um período de 18 meses, com o objetivo de integração plena. Recebem alojamento, alimentação, vestuário, educação (aulas de Português, sobretudo), apoio social e psicológico, apoio jurídico e processual, com vista à socialização e empregabilidade.
Apoios europeus
"Fazemos tudo isso e mais ainda. Vamos além do protocolo, porque decidimos que todos têm de ir a um oftalmologista, a um dentista, que todos têm de fazer rastreios de saúde", observa José Miranda, membro da Fundação José Allamano.
"É também importante verificar - atalha Ana Correia, assistente social da Fundação - como a comunidade, de uma forma geral, está consciente do nosso projeto com os refugiados. E tendo sido criada pelos Missionários da Consolata, a Fundação só podia prestar-se a dar apoio a estes rapazes, até porque, se os Missionários percorrem todo o Mundo a apoiar os mais desfavorecidos, a levar a sua missão, por que não fazê-lo também cá dentro e sermos nós a apoiar e estruturar estes rapazes para o futuro?".
O projeto tem o apoio de fundos europeus e também está incluído na contribuição de Portugal e dos restantes estados-membros da UE para o designado Pacto para as Migrações e Asilo [ver peça ao lado]. Os refugiados de Águas Santas têm ainda uma rede de ajudas da comunidade e de apoios formais, que permitiram, através da Segurança Social e do Instituto do Emprego e da Formação Profissional, arranjar trabalho ou estágios profissionais. Dois trabalham na construtora Casais e quatro na IKEA.
"Temos de cuidar destes rapazes de forma a que a qualidade de vida e o bem-estar deles seja ótimo. Chegaram aqui sem nada, precisam de tudo", afirma Jacinto Mota, funcionário da Fundação, que lida mais diretamente com o dia-a-dia dos refugiados, no recreio, no lazer e na também na organização de tarefas. "Sim, porque todos terão de assumir as suas responsabilidades. Tratam da limpeza dos quartos, cozinham, cuidam dos espaços. E todos o fazem com grande sentido de responsabilidade", conclui Jacinto Mota.