Rótulas da ponte são "ideia engenhosa" mas não "eficiente"

A utilização de apoios flutuantes (rótulas) previstos no projeto inicial e o sistema de acionamento dos tabuleiros "são algumas das deficiências mecânicas" que estão a criar problemas constantes na ponte móvel de Leixões, em Matosinhos, e que têm obrigado a interrupções sucessivas da travessia. Estas são as principais conclusões do relatório elaborado pelo Instituto da Ciência em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) para identificar as causas de avarias constantes.

Questionada pelo JN, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) não avançou com uma data para o início da empreitada que corrigirá as deficiências estruturais, assumindo apenas que "as intervenções só ocorrerão após a elaboração do projeto pelo INEGI".

Certo é que esta intervenção mais abrangente - e que vai obrigar a mais uma paragem forçada da ponte - só acontecerá depois da empreitada de substituição da cobertura pedonal, que contempla ainda a pintura da estrutura, com sinais evidentes de degradação. A obra "está em fase de lançamento de concurso público, pelo que prevê-se que arranque durante o próximo ano", garantiu a APDL.

Nas conclusões do relatório do INEGI, é descrito que "a utilização de apoios flutuantes previstos no projeto (rótulas esféricas montadas em componentes cilíndricos deslizantes) parece ser uma ideia engenhosa que na prática não se revelou eficiente".

Daí, os técnicos que analisaram remotamente o comportamento estrutural da ponte durante seis dias, a partir de sensores, não terem dúvidas em afirmar que "estará aqui o motivo das recorrentes gripagens verificadas nas rótulas". E mais referem: "A solução construtiva destes apoios exige acabamentos superficiais cuidados, difíceis de obter em estruturas desta dimensão".

Será preciso inspeção global

Apontaram ainda problemas no "sistema de acionamento projetado e construído" da ponte: "Nas fases passivas, em que o circuito hidráulico controla o movimento, são utilizadas válvulas operando em anel aberto, atuando independentemente entre si. Esta situação não seria problemática se o centro de gravidade do tabuleiro estivesse no plano de simetria, mas como esta situação não se verifica, as cargas geradas pelos dois cilindros implicam solicitações desiguais nos apoios" e, com isso, as "rótulas diminuem a sua vida útil drasticamente".

O INEGI aconselha, por isso, que seja feita "uma inspeção global a toda a estrutura para verificar se esta mantém a configuração do projeto, nomeadamente no que diz respeito à solução de encavilhamento entre os dois tabuleiros". Também "os sistema de acionamento e a sua interação com a estrutura deverá ser analisado com profundidade".

Inauguração

A nova ponte móvel de Leixões, que liga Leça da Palmeira a Matosinhos, foi inaugurada em 2007. Custou 14 milhões.

Avarias

Desde que foi inaugurada, a travessia já esteve encerrada cinco vezes devidoa avarias: em 2013, 2018, 2019 , 2020 e 2021.

Encerramento

No total, as cinco avarias referidas determinaram o encerramento da ponte por um período de quatro meses. Esta contabilidade não inclui as interrupções pontuais para manutenção.

Peça feita na Alemanha

Uma das interrupções mais longas aconteceu em 2013. Uma das rótulas teve de ser substituída e foi preciso esperar que a peça fosse feita na Alemanha. A ponte esteve fechada mês e meio.

Quinta paragem

Este ano, a ponte esteve encerrada desde 31 de março. Deveria ter reaberto a 30 de abril, mas isso só aconteceu a 11 de maio.

Novo fecho

A ponte terá de fechar uma sexta vez, para reparar as deficiências detetadas pelo INEGI. Ainda não há data para essa interrupção.

Novo sistema vai antecipar avarias

A ponte móvel de Leixões, que liga Leça da Palmeira a Matosinhos, vai ter sensores que permitirão antecipar avarias e planear intervenções de manutenção. O sistema de monitorização está a ser desenvolvido pelo INEGI, que coordenada o grupo de trabalho criado para identificar e estudar também as principais causas das anomalias prematuras ocorridas na travessia.