Comerciantes desesperados com barulho, falta de condições e "fuga" de clientes. Câmara do Porto só recebeu uma queixa sobre o ruído.
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São pouco mais de 800 metros com 24 obras a decorrer em simultâneo. Na Rua do Almada, na Baixa do Porto, os comerciantes e empresários de alojamento local vivem num desespero sem fim à vista: denunciam o ruído, as difíceis condições de acesso e a "fuga" dos clientes. Em causa estão trabalhos de reabilitação de edifícios e na via pública. Contactada pelo JN, a Câmara ressalva que, até agora, recebeu "apenas uma denúncia sobre o ruído".
"Neste momento, há 24 obras obras de edificação (20 com alvará e quatro isentas). Considerando que algumas destas obras em curso implicam ocupação de espaço público, o Departamento Municipal de Fiscalização está a acompanhar e monitorizar em permanência estas ocupações com tapumes e/ou andaimes, no sentido de acautelar o cumprimento da legislação em vigor", diz o Município. "É de referir que estas obram implicam também, normalmente, em determinada fase, intervenção na via pública", acrescenta.
Os comerciantes dizem que as obras "estão a afastar os clientes". Mas, enquanto uns afirmam ter denunciado o caso à Câmara do Porto, outros dizem não valer a pena, por não acreditarem que obterão resposta. "Nem no confinamento obrigatório a construção civil parou o seu trabalho", dizem os comerciantes, sublinhando que as empreitadas, que decorrem das 8 às 18 horas, estão a deixar a artéria "em pantanas".
"Clientes não vêm"
Em tempos conhecida como a "rua das ferragens", por concentrar grande parte deste comércio, a Rua do Almada é conhecida atualmente por outro tipo de negócios. Ao comércio mais tradicional, juntou-se uma grande variedade de outros estabelecimentos, incluindo lojas e restaurantes. As obras em curso afetaram as condições de quem tem ali porta aberta e os comerciantes dizem-se esquecidos por quem licenciou tantas construções em simultâneo.
Com o piso cheio de buracos, materiais de construção esquecidos e um barulho ensurdecedor, os que ali têm o seu estabelecimento afirmam que o número de clientes tem vindo a diminuir.
"Como é que no pico do verão, especificamente no negócio local, quando nós podemos tirar algum dinheiro extra, a Câmara nos sujeita a estas condições?", questiona Patrícia Figueiredo, gestora de alojamento. André Gomes, empregado de balcão, diz-se transtornado com o corte de circulação na via. "Os clientes não vêm porque não têm lugares para estacionar. E aqueles que vêm fazer cargas e descargas têm de fazer marcha-atrás. Muitas vezes nem isto pode acontecer porque os trabalhadores ocupam a via com os veículos de construção", aponta.
Ainda que a quebra no número de clientes e nas vendas seja a grande preocupação, a segurança, ou falta dela, não é esquecida. "Os trabalhadores estão a transportar cimento por cima da cabeça das pessoas. Colocam gruas e andaimes, mas não têm qualquer preocupação se acontece algum acidente. Já para não falar do pó e da poluição sonora. É uma questão de saúde pública", relatam residentes.
Detalhes
Acompanhamento
"Neste momento, os serviços municipais estão a acompanhar uma obra da REN Portgás Distribuição, SA, que pressupõe ocupação do subsolo com infraestruturas de abastecimento de gás e, como tal, obriga também a alguns condicionamentos de estacionamento e trânsito", diz a Câmara.
Alojamento local
Houve quem tentasse recorrer ao Mediador do Alojamento Local. No entanto, apesar de a criação daquele cargo ter sido aprovada em reunião de Câmara no passado dia 28 de junho, ainda não entrou em funções.
Patrícia Figueiredo
Gestora de alojamento local
Estas obras decorrem há mais de dois anos e nem no confinamento para-ram. Preocupa-me a saúde dos que aqui vivem
André Gomes
Funcionário de balcão
Os clientes estão a fugir desta confusão. Além das más condições, há sempre veículos a cortar a circulação e a tapar montras
Isabel Coelho
Gerente da loja IllustrArt
É pó, é barulho, tenho diariamente imenso lixo dentro da loja. É horrível trabalhar todo o dia com este ruído"
José Gomes
Aposentado
Ainda que seja urgente requalificar estes edifícios, o piso está a ficar muito degradado. Não prestigia em nada a rua