Freguesia quase duplica a população com chegada de emigrantes. Rua da Murteira vira local de romaria.
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Todos os anos, assim que chega o mês de julho, na freguesia de Longos, em Guimarães, a população já sabe que a habitual pacatez dos dias se transforma numa festa diária. Na pastelaria Europa, duplicam-se os empregados e triplicam-se as mesas de esplanada. No minimercado com o mesmo nome, reforçam-se as estantes. É na Rua da Murteira, engalanada pelos idosos da localidade, que a maioria dos emigrantes gosta de reencontrar amigos, família e passar longas horas de convívio.
A tarja pendurada na estrada municipal, com uma mensagem de boas-vindas, é o primeiro motivo para sorrir. Depois, a receção é feita com flores artificiais penduradas ao longo da rua que une diferentes gerações. "Encontramos toda a gente aqui. Há pessoas que não são de Longos e vêm a esta rua. Aqui há convívio", relata Domingos Rodrigues, emigrante conhecido por ser "o animador".
"Ele pega na guitarra e, às vezes, estamos aqui até às duas horas da manhã", confidencia Margarida Gomes, regozijando-se com a receção feita pela Junta e pelos idosos da freguesia, mas também com a romaria de amigos e família que acorre à Rua da Murteira, por estes dias. "É uma maravilha. Quando chega maio, já estou a pensar nas férias", admite a emigrante.
Domingos Rodrigues diz que já só pensa na reforma. As lágrimas aparecem, sempre que pensa no primeiro dia que deixou a terra para emigrar para França. "Fui escoteiro, fiz parte da Junta e, quando decidi sair daqui, há 32 anos, tinha crianças agarradas às minhas pernas. Ainda dói", recorda . "Amamos mais Portugal do que algumas pessoas que cá estão", considera.
Daniel Ribeiro, dono da pastelaria Europa, aparece com uma cerveja para não deixar Domingos Rodrigues ir abaixo. Saem dezenas de bebidas e aperitivos para as mesas. "Chegam a ser centenas de pessoas espalhadas pelos cafés", refere o empresário, satisfeito com o movimento. "É muito positivo para o negócio. Um bom arranque para o inverno", assevera.
Isilda Silva, presidente da Junta de Longos, adianta que, com a chegada dos filhos da terra, a população da freguesia "quase duplica". Na Rua da Murteira, "o estacionamento fica ocupado logo pela manhã" com matrículas estrangeiras. É de França que vem a maioria, mas também se veem insígnias de outros países, como a Suíça. E se o reencontro com a família é um dos motivos para regressar a Portugal, o jovem lusodescendente Bryan Ribeiro aponta mais dois: "Aqui, come-se melhor e é mais fácil respirar".v
Principais destinos
França é o país com maior número de portugueses emigrados, com cerca de 587 mil pessoas, segundo os últimos dados, referentes a 2020. Segue-se a Suíça, com 210 mil portugueses, e o Reino Unido, com 165 mil.
Covid travou saídas
O número de emigrantes portugueses em 2020 foi o mais baixo dos últimos 20 anos, resultado da pandemia e do "Brexit", segundo o Observatório da Emigração. Foram 45 mil saídas, quando em 2019 se contabilizaram 80 mil.
Suíça a crescer
Em 2020, a Suíça foi o destino preferido dos portugueses para emigrar, tendo o país recebido 7542 pessoas. Destronou o Reino Unido, que contou com 6664 entradas, contra 20 mil em 2019.