Rui Moreira diz que tráfico de droga no Porto movimenta 100 milhões de euros por ano
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, calcula que o tráfico de droga na cidade movimente, no mínimo, cem milhões de euros por ano.
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O montante foi avançado pelo autarca na noite desta segunda-feira, durante a Assembleia Municipal extraordinária marcada para discutir, unicamente, o tema da insegurança na Invicta.
As contas de Rui Moreira são simples. A sala de consumo vigiado, instalada junto ao Bairro da Pasteleira Nova, tem registados 1600 toxicodependentes viciados em drogas duras, que gastarão, em média e segundo informação fornecida pelos técnicos, 250 euros por dia na compra de droga. "Cada uma destas pessoas precisa de ter 7500 euros por mês", o que faz com que, explicou o edil, o negócio do tráfico de droga movimente, pelo menos, cem milhões de euros por ano. "Não podemos tolerar uma atividade que tem este volume e este valor", defendeu.
Insegurança é real ou apenas uma perceção?
Numa Assembleia Municipal convocada pelo Grupo Municipal Rui Moreira: Aqui Há Porto, o presidente da Câmara voltou a afirmar que "há sintomas preocupantes relativamente à perceção de insegurança" na cidade portuense, causada não só pelo consumo e tráfico de droga, mas também por outras atividades criminais. Garantiu, mesmo assim, que o Porto "não é o Kosovo". "Não somos o faroeste" reforçou.
Aliás, Moreira apelou a um debate responsável, que evite alarmismos, e, apesar de realçar que a cidade tem "um número insuficiente de polícias para garantir a perceção de segurança" na população, mostrou-se disponível para continuar a trabalhar com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. "Não há nenhuma guerrilha, nem um clima de crispação com o Governo. O que há é um grau de exigência grande", justificou.
Consenso partidário
Os partidos com assento na Assembleia Municipal também evitaram a radicalização do discurso. "Não vemos o Porto como uma cidade insegura, mas como uma cidade com um sentimento de insegurança", referiu José Maria Montenegro. O deputado do movimento independente que apoia Rui Moreira lembrou que ninguém nega o problema do consumo e tráfico de droga, assim como a existência de "gangues da noite" que atuam na zona da movida.
Exigiu, igualmente, um maior investimento do Governo para fazer face à falta de polícias no Porto, mas recusou fazer do Porto uma cidade sem lei.
A perceção de violência é, concordou Paulo Vieira de Castro, do PAN, a principal causa "do medo na cidade". "A cidade do Porto é segura, mas tem um problema de perceção de insegurança", sublinhou Rui Sá, da CDU. Já para Sílvia Soares, do PSD, "o sentimento de medo instalou-se na rua", o que a faz temer que, se o policiamento não for reforçado, "alguns fenómenos de criminalidade podem agravar-se, de forma quase irreversível".
Tal como Rui Afonso, do Chega, os presidentes das juntas de freguesia do Centro Histórico e de Ramalde, respetivamente Nuno Cruz e Patrícia Rapazote, avisaram que "a falta de polícias na rua é evidente" e todos querem que a PSP do Porto aumente o patrulhamento de visibilidade nas zonas mais críticas da cidade.
PS ao lado do Governo
Agostinho Sousa Pinto, do PS, também admitiu que "o aumento do tráfico e do consumo de estupefacientes potencia fenómenos como roubos, agressões e ajustes de contas". Contudo, frisou, sustentado em relatórios policiais e inquéritos à população, que o "Porto é, sem sombras de dúvida, uma das cidades mais seguras do mundo".
Contrariamente aos membros das restantes forças políticas, o socialista defendeu ainda a atuação do ministro José Luís Carneiro . "No ano de 2022, o Comando Metropolitano do Porto da PSP foi reforçado com mais 185 agentes, dos quais 50 ficaram exclusivamente afetos ao policiamento de visibilidade, reforço esse que continuará a acontecer logo que termine o curso de formação de novos agentes", lembrou.
Moção aprovada
Foi neste cenário que a proposta do Grupo Municipal Rui Moreira, que motivou a Assembleia Municipal extraordinária, foi aprovada, apenas com a abstenção do PS. A moção expõe que "a sensação de insegurança na cidade do Porto não pode ser subestimada" e, como tal, deve o Ministério da Administração Interna investir "em meios e equipamentos que melhorem a eficiência da PSP".
O documento alega que, "fruto da falta de efetivos, o controlo policial dos territórios com forte incidência de toxicodependentes é extraordinariamente limitado" e pede ao Governo "respostas transversais, que não se esgotem na intervenção policial de primeira linha". A moção aprovada reclama, por fim, mais elementos para a Polícia Municipal.