Ruído das grandes vias rodoviárias afeta interior do concelho. Câmara já criou plano de mitigação que, até 2023, reduzirá barulho.
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É no interior de um concelho como Matosinhos rasgado por vias rápidas e autoestradas que os dias se tornam verdadeiramente ensurdecedores. O cenário intensifica-se nas freguesias de Leça do Balio, Perafita, Leça da Palmeira e S. Mamede de Infesta, as mais prejudicadas pela proximidade às grandes infraestruturas. É lá que mais pessoas estão expostas a níveis sonoros que "excedem os valores limite aplicáveis", diz o Relatório do Estado do Ambiente Acústico Municipal. A Câmara já criou um plano e prevê, até 2023, reduzir o ruído entre 14% a 16%.
Além da A28, A41, EN14, A3, A4 e VRI, apontadas como as principais culpadas pelo ruído, independentemente da altura do dia, há também 11 ruas identificadas pela Câmara, também prejudicadas pelo tráfego rodoviário.
O Aeroporto Francisco Sá Carneiro também entra para estas contas, já que tem "uma ampla influência em todo o concelho", mas afeta um "número reduzido de população no que toca à ultrapassagem dos valores-limite".
Em matéria de reclamações, muitas são motivadas pelo ruído noturno e, por isso, a maioria das queixas refere-se a cafés, restaurantes, bares e discotecas. Esses espaços são já, desde 2004, a origem da maioria das reclamações.
trânsito foge das portagens
Há dois anos que a Câmara está a aplicar medidas para mitigar a poluição sonora nas vias municipais. O "Plano de Ação de Ruído de Matosinhos" será aplicado até 2023, altura em que a Autarquia prevê ter reduzido 16% do ruído durante o dia e 14% durante a noite. Apesar de o relatório concluir que já se sente algum impacto do plano, "esse decréscimo é inferior aos 10 decibéis desejados e previstos".
O documento já foi apresentado à Assembleia Municipal e recebeu várias críticas da Oposição, que questionou a Câmara sobre que medidas estão a ser adotadas e culpou as portagens da A4 e A41 pelo ruído, uma vez que "obrigam o trânsito a fugir para o interior das freguesias".
A vereadora Manuela Álvares, responsável pelos pelouros do Ambiente e Transição Energética, Espaço Público, Habitação e Obras Municipais, referiu que a Autarquia tem uma rede de monitorização do ruído através de sete sensores e que o plano de ação teve início em 2018, tendo sido já concluídas algumas medidas propostas, nomeadamente, "a introdução de uma rotunda entre a Avenida Eng. Duarte Pacheco e a Avenida Serpa Pinto e a alteração do pavimento em algumas vias". "Não podemos esquecer que o plano é para cinco anos. Foi iniciado no final de 2018 e estamos em 2021", acrescentou Manuela Álvares.
"Não depende só da autarquia"
Sobre "a grande fonte de ruído", a vereadora referiu que as concessionárias "têm um plano de ação próprio", considerando, no entanto, que "aquilo a que se comprometeram é pouco".
Luísa Salgueiro, presidente da Câmara de Matosinhos, afirmou mesmo que a melhoria da situação "não depende apenas da Autarquia".
Plano
Estudo sobre a circulação de pesados
Salienta-se, no Plano de Ação elaborado em março de 2018, que "algumas rotas suportam um considerável volume de tráfego de pesados e essa proporção geralmente aumenta durante o período noturno". Por isso mesmo, a estratégia passaria por elaborar "um estudo, com recolha e transcrição para uma planta das situações de arruamentos com condicionamentos/proibições à circulação de pesados". A análise estaria, à data, a ser feita pelo departamento de Planeamento da Câmara. O principal motivo desse estudo, refere-se, é o facto de uma das preocupações do excesso de poluição sonora estar "relacionada com o número de veículos pesados que atravessam ou abastecem o município", já que "emitem um nível de ruído superior ao dos veículos ligeiros".
Mais detalhes
"Living lab"
Entre as medidas de redução de ruído nas vias municipais previstas no plano está o projeto piloto "Living lab", apresentado em 2018. O objetivo era criar, à volta do edifício da Câmara, um "bairro inteligente" com bike-sharing e gestão de tráfego e semáforos inteligentes.
Isolar fachadas
O Plano de Ação indicava que, nos casos de reabilitação de edifícios ou nova construção, "as zonas mais críticas das freguesias da Senhora da Hora e São Mamede de Infesta" deveriam ser abrangidas por um regulamento municipal que obrigue a um reforço de fachada adicional em função do ruído.