Nos diversos bairros da cidade do Porto criam-se carros alegóricos, afinam-se as vozes e ensaiam-se coreografias. As costureiras confecionam os fatos garridos que serão estreados no desfile.
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Os salões e rinques das coletividades, nestas quentes noites de junho, são locais de concentração dos moradores. A música entoa por todo o bairro e tudo é repetido até à exaustão, muitas vezes até de madrugada. Na tarde de 2 de julho nada pode falhar quando as rusgas desfilarem pelas ruas do Porto num bairrismo aceso pela competição e onde todos querem vencer.
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Campanhã prepara a conquista do penta depois de ter ganho as últimas quatro edições. A última foi em 2019. "Vai ser difícil porque nunca ninguém foi tetracampeão e consegui-lo é pior ainda. Mas vamos com toda a força, garra e paixão para ganhar o penta", diz Zé Pedro, o ensaiador da rusga da Associação Cultural e Desportiva do Bairro do Falcão que representa a freguesia de Campanhã.
A tradição das rusgas, muito diferentes das marchas, remonta a 1957 e retrata os antigos festejos de S. João, quando a população dos arrabaldes entrava na cidade em grupo a cantar e a dançar. Num desfile etnográfico são relembrados os costumes e a história do Porto de antigamente. Durante alguns anos, os desfiles não se realizaram, tendo a tradição sido resgatada em 1991 para o programa de festas nos últimos anos.
Devido à pandemia em 2020 e 2021, as rusgas pararam. "Foi uma tristeza muito grande estar muito tempo sem fazer nada porque isto parece que não mas une um povo. Nestes dias de ensaios, a gente não pensa nas dívidas, porque isto é tudo gente pobre, gente de bairro, humilde e não é fácil estar dois anos sem uma rusga, sem um bailarico, uma reunião e um encontro de amigos. Foi complicado", explica Zé Pedro.
"Um sentimento inexplicável"
No rinque do Bairro do Falcão as mulheres dominam o ensaio enquanto os homens se juntam à porta do café do clube a beber cerveja fresca. As crianças correm e tentam acompanhar. A rusga envolve gente de todas as idades, desde os mais novos ainda com meses até pessoas com 93 anos. Zé Pedro grita e manda fazer um intervalo. A gravação sonora com a música e a letra criada por Márcio para este ano é desligada. "O sentimento de desfilar na Baixa do Porto é inexplicável porque sente-se o calor de toda uma cidade que vibra sozinha. Não há o mediatismo que existe à volta das marchas e é bom sentir o calor da população do Porto, de todas as freguesias que estão representadas", refere Erica Pereira, estudante de Turismo que participa na festa desde pequena.
Roupas dão alegria
Para Núria Ferreira são as roupas que dão alegria às rusgas. "As saias têm de ser abaixo do joelho, meia branca até meio da perna, com sapato próprio, camisa branca, xaile e um avental", explica. No Falcão, "a fasquia está alta", resta saber o que vai acontecer a 2 de julho e se o tão desejado penta será alcançado mais uma vez à zona oriental da cidade.
Freguesias em despique desfilam em busca de um título
Mais de 1200 pessoas participaram no desfile em 2019 e neste ano espera-se que o número aumente. Pelas ruas da Baixa do Porto, a União das Freguesias do Centro Histórico será a primeira a participar no desfie marcado para as 17 horas de 2 de julho. Seguem-se as rusgas da União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, da Junta de Freguesia de Campanhã, União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, Junta de Freguesia de Ramalde, Junta de Freguesia de Paranhos e a Junta de Freguesia do Bonfim.
Curiosidades
Desfile na Baixa
O desfile da tarde de 2 de julho passará por diversas artérias, mas é na Rua de Santa Catarina, Praça da Igreja da Trindade e Avenida dos Aliados que se concentra o maior número de apoiantes à sua passagem. Nos Aliados, passam em frente à tribuna para serem avaliados por um júri.
Critério do júri
As formações em concurso serão, como habitualmente, classificadas com base na coreografia, cenografia, figurinos e musicalidade. Embora sejam livres na escolha dos temas, as rusgas devem apresentar um cunho tradicional e evocar factos e costumes da história da cidade.