Liberdade. É disso que os cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Coimbra (EPC) que se encontram a trabalhar na manutenção e recuperação da Mata Nacional do Buçaco, no concelho da Mealhada, falam, quando lhes pedimos que interrompam as tarefas. Disso e de segundas oportunidades. "Lá porque uma pessoa parte uma perna, não quer dizer que vai partir as duas", observa Augusto Barbosa, de 38 anos.
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"Aqui, estamos livres, não somos tratados como reclusos, mas como seres humanos. Apostam em nós", prossegue Augusto. Vasco Miguel, de 34 anos, concorda que trabalhar ali "é como estar em liberdade". E Hugo Ferreira, de 24 anos, acrescenta: "É melhor do que estar metido dentro de quatro paredes. A gente, agora, dá valor à liberdade".
Hugo foi detido, há quase quatro anos, por ofensa à integridade física. Diz que "toda a gente erra", a lição está aprendida e o trabalho não assusta: "Faço tudo", garante. Antes da detenção, esteve ligado ao mar e à construção civil. Na cadeia, passou pelo bar e pela biblioteca. "Não me dou fechado numa cela", justifica, com um sorriso e músculos trabalhados.
Os cinco homens foram criteriosamente seleccionados pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, de entre os detidos que gozam do chamado regime aberto no interior. São pessoas que já cumpriram boa parte das penas, sem percalços, e reúnem as competências necessárias à realização das tarefas. Neste caso, trata-se de limpar a Mata, fazer trabalhos de jardinagem, manutenção de edifícios e arranjos exteriores.
Rumo à reinserção social
Estão a trabalhar, ali, desde 10 de Maio, das 9 às 18.30 horas, com um intervalo de 90 minutos para almoço, ao abrigo de um protocolo de cooperação entre a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais e a Fundação Mata do Buçaco (FMB). Recebem um subsídio de 23 euros por dia. Até porque uma das metas é facilitar a sua reinserção social, uma vez libertados.
Hermínio Tomás, de 42 anos, está a poucos meses disso. A pena acaba em Agosto. Uma multa que tem por pagar podia valeu-lhe mais 80 dias de reclusão. Mas, graças aos euros que recebe, ali, vai poder liquidá-la. "Esta é uma maneira de juntar esse dinheiro e de andar em liberdade", diz ao JN, ao regar um jardim. Quando sair, quer dedicar-se à criação de gado, a sua ocupação antiga, e à jardinagem (fez o curso, na cadeia).
"Parecem profissionais da área"
Quem não poupa elogios a estes trabalhadores é o presidente da FMB, António Jorge Franco. Gaba-lhes o empenho, a iniciativa, o facto de "não estarem a olhar para o relógio". Em suma: "Parecem profissionais da área".
O director do EPC, José Lemos da Silva, realça que a iniciativa "é importante, também, para os outros reclusos". Serve-lhes de exemplo. Somam-se pedidos para integrar uma destas brigadas. E o responsável remata: "Eles, aqui, sentem-se livres. E acabam por ser".