A unidade de abate do Cachão, Mirandela, esteve ontem parada devido ao protesto dos trabalhadores contra o atraso do salário de Julho e a ausência de explicações. A administração admite ter problemas financeiros, mas garante pagar até ao final da semana.
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Tal como acontece todos os dias da semana, ontem, às oito horas, os 48 trabalhadores compareceram no matadouro do Cachão para cumprir as oito horas de trabalho. Apesar de envergarem o uniforme habitual, decidiram não proceder ao abate das mais de duas centenas de animais (bovinos, ovinos, caprinos, porcos e leitões) que estavam marcados para o primeiro dia da semana.
Depois de vários atrasos no pagamento dos ordenados, nos últimos meses, os trabalhadores da unidade de abate começam a ficar preocupados com a falta de explicações da administração para o atraso do de Julho. "Estamos descontentes porque não recebemos o dinheiro para sustentar as nossas famílias e ninguém diz nada sobre o atraso", afirma Henrique Afonso, porta-voz dos trabalhadores. Depois de avisarem a administração, na semana passada, que estavam prontos para tomar medidas drásticas, a situação não foi regularizada. "Viemos para trabalhar, vestimos as fardas, mas todos decidiram não efectuar os abates", diz Henrique Afonso, lamentando o facto de ninguém da administração aparecer para dar explicações. "Sempre demos tudo por este matadouro e gostaríamos de ver a situação resolvida", acrescenta. Os trabalhadores ainda não decidiram se o protesto é para continuar nos próximos dias, caso não recebam os ordenados.
O administrador delegado da Agro-Industrial do Nordeste (AIN), responsável pela gestão do matadouro do Cachão, confirma o atraso no pagamento dos salários de Julho. "Tivemos algumas dificuldades devido às férias e problemas de tesouraria, mas dentro de dois ou três dias vamos pagar os vencimentos", assegurou, ao JN, António Mendonça, que considera ter sido uma decisão "demasiado radical" dos trabalhadores. "Sempre receberam a tempo e horas e até já pagámos os subsídios de férias", lamenta.
Admite que a situação financeira "é delicada", dado que o matadouro tem vindo a apresentar resultados negativos. "Não temos abates suficientes para pagar as despesas com o pessoal", afirma.
Carne importada
Esta situação acontece devido à crescente diminuição da actividade, provocada pelo aumento do consumo na região de carne importada, nomeadamente de Espanha, da instalação de grandes superfícies comerciais na zona que se abastecem a partir de centrais de compras em detrimento do mercado regional, mas "sobretudo porque entraram em funcionamento novas unidades de abate em Vinhais, Bragança e Miranda do Douro, quando o matadouro do Cachão foi construído com o intuito de abastecer toda a região transmontana", explica.
A administração diz estar a encetar negociações com um privado para entregar a gestão e funcionamento da unidade de abate. No entanto, foram feitas algumas exigências financeiras que "estão a ser dificultadas pela crise da banca e da economia em geral", revela António Mendonça.
Caso as negociações falhem, o administrador admite o cenário de encerramento do matadouro, apesar de ressalvar que "será o último caminho a enveredar".