Este ano houve menos marnotos e marinhas a produzirem sal em Aveiro.
Corpo do artigo
De acordo com a Câmara, em 2021 laboraram seis marinhas, menos duas do que em 2020. Trabalharam oito marnotos, menos dois do que no ano passado. Este fator, somado às condições climatéricas, fez da safra deste ano a mais baixa dos últimos 15 anos.
Uma das que ficaram paradas foi a de João Ruivo, 67 anos. O marnoto teve de deixar a "18 dos Caramonetes" depois de ter rebentado um muro na marinha ao lado. "As que estão abandonadas estão a prejudicar as outras, mas ninguém quer saber de nada", lamenta, adiantando que teve um "prejuízo grande".
Ainda tentou consertar, mas acabou por alugar outra marinha, a "Senitra". Se não tivesse trabalhado nela, teria sido esta a ficar parada. É que, quem ali laborava, devido à "idade e cansaço", decidiu deixá-la, contou Ruivo.
Manuel Gandarinho, 63 anos, iniciou a safra com duas marinhas a seu encargo, mas, por não ter quem o ajudasse, acabou por largar a "Pajota" e apenas produziu na "Grã Caravela". "Trabalhei sozinho e, ao final do dia, dois indianos, que estão na construção civil, iam ajudar a trazer o sal para as eiras, porque tenho problemas nas articulações", revelou.
"Convinha aparecer alguém porque, mais uns dois ou três anos, e os marnotos vão para a reforma", alerta Gandarinho, explicando que em Aveiro quase todos têm "mais de 60 anos". "É preciso fazer uma formação, com o Instituto de Emprego ou escolas profissionais, para que a profissão não morra", defende.
Há uma década decorreu um curso para formar marnotos em Aveiro, promovido pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Foi frequentado por três pessoas, que já tinham "cursos superiores", e quiseram "aprender para depois desenvolverem atividades ligadas ao turismo e fazerem visitas guiadas", lembra Gandarinho. Nenhum deles produz sal.
Em Rio Maior, o que tem valido é a mão de obra indiana. José Casimiro, presidente da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal, assume: "Sem os indianos não teríamos produzido nada". Das 11 pessoas que trabalharam naquelas salinas, sete são indianos, o mesmo número do ano passado. O dirigente receia que não voltem em 2022.
Figueira da Foz e Algarve
Pedro Oliveira, da associação Figueira Sal, explicou que as 31 salinas ativas na Figueira da Foz, sensivelmente as mesmas de anos anteriores, têm sido trabalhadas por "famílias da comunidade local".
A média de idade dos marnotos "ronda os 60 anos" e a sua renovação é uma preocupação. Este ano apareceram duas pessoas, da região, com idade entre os 35 a 45 anos, que estiveram a aprender. "Se regressarem no próximo ano, estamos num novo caminho", diz Pedro Oliveira. Se não, será um problema. Até porque há dois marnotos que, "devido à idade avançada, vão abandonar". O presidente da Figueira Sal contou que já tentou "reativar formação junto do Instituto de Emprego". Mas "dizem-nos que não há procura".
Em Castro Marim, Miguel Silveira, administrador da Cooperativa Terras de Sal, adiantou que a atividade emprega 50 pessoas, "trabalhadores nacionais, sobretudo do concelho".
Outros negócios com altos e baixos
Nos últimos anos têm surgido novos negócios em Aveiro, mas nem todos estão a correr bem. Das duas marinhas que tinham atividades ligados ao turismo, uma encerrou o spa e apenas fez sal este ano. A outra, a Noeirinha, tem spa, casas-barco e uma praia. A gerente, Joana Soares, diz que a atividade turística "corre bem e atrai muita gente". Só com o sal, a Noeirinha, que no verão emprega até 15 pessoas, "não era rentável", assume. A empresa Beleza do Sal, de Gabriel Castro, usa parte daquela matéria-prima para criar sabonetes, cremes, esfoliantes, sais de banho, entre outros. Desde que a pandemia começou, tem procurado travar a queda nas vendas aumentando o comércio online e deixou de lançar novidades no mercado. Aveiro tem, ainda, duas marinhas ativas que, em vez de sal, produzem ostras.
Clima
Chuva e névoa
As condições climatéricas, nomeadamente chuvas e névoas, foram responsáveis pela baixa de produção em quase todo o país. O sal quer sol e vento. A exceção foi Casto Marim, onde a quantidade produzida foi similar a 2020.
Vendas asseguradas
Em Aveiro, os marnotos vendem o sal diretamente a particulares ou comerciantes. Em Rio Maior, Figueira da Foz e Castro Marim, o escoamento é assegurado para o mercado nacional e para outros países da Europa.