Plano de ordenamento do parque arqueológico avança esta quarta-feira. Fundação vai participar na gestão do território em cinco concelhos.
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Um quarto de século depois da criação, o Parque Arqueológico do Vale do Côa vai ter, finalmente, existência formal. Neste dia em que se comemora o 22.o aniversário da classificação das gravuras como Património Mundial da UNESCO, é publicado em "Diário da República" um despacho, assinado por quatro secretários de Estado, que marca o arranque do plano de ordenamento. Chega com 24 anos de atraso e vai permitir à Fundação Côa-Parque ter voz na gestão do território dos concelhos da região onde existe arte rupestre.
A execução do plano previsto numa lei de 1996, aquando da criação do parque, vai ser liderada pela Direção-Geral do Património Cultural e pela Fundação Côa-Parque. Vai "estabelecer um regime de salvaguarda do património do vale do Côa", definindo "um modelo de desenvolvimento sustentável", que tenha por base a "valorização dos recursos naturais e a economia rural", aproveitando "o potencial turístico, cultural e de lazer, e dando-lhe projeção internacional", explica ao JN o presidente da Fundação, Bruno Navarro.
O plano vai estar pronto dentro de 18 meses. Só depois a Fundação ficará dotada de um instrumento que vai "permitir intervir na gestão do território". E como, de acordo com Navarro, "nunca terá uma lógica de bloqueio às necessidades de desenvolvimento da região", a governação será feita "sempre em articulação com os municípios. Para já, os de Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Meda. Mais tarde, o de Torre de Moncorvo, onde também existe arte rupestre.
Visitas caíram 20%
Nesta data "histórica", Bruno Navarro prefere concentrar-se no futuro e deixar para trás as razões que motivaram um atraso de um quarto de século. Porém, não deixa de sublinhar que terão a ver com "períodos de desalento" pelos quais o Côa passou e que deixaram as pessoas "sem a motivação necessária para perseguir o projeto", bem como "alguma inércia que se instalou em períodos prolongados de crise" e "falta de vontade política".
O avanço do plano de ordenamento é umas das melhores notícias para o Côa num ano "dramático e trágico" para o setor cultural em Portugal, devido à pandemia. Bruno Navarro estima, com dados de final de outubro, que a quebra de visitas ao parque e ao museu, bem como de receita própria, ande "à volta dos 20%". Valeram os meses de julho, agosto e setembro para que os números não fossem piores, já que a afluência no verão "aumentou mais de 40%" comparativamente com os mesmos meses do ano passado. Em 2019, parque e museu ultrapassaram os 50 mil visitantes e geraram receitas de 360 mil euros.
Projetos para 2021
Programação cultural
Vão ser executados vários projetos já aprovados no âmbito de candidaturas a fundos europeus, alguns deles resultado de parcerias territoriais, designadamente uma com o Museu do Douro para programação cultural em rede. "Vão permitir à região ganhar maior expressão no contexto nacional", prevê Bruno Navarro.
Nova disciplina escolar
A Fundação Côa-Parque quer avançar no próximo ano letivo com a criação de uma disciplina, no âmbito dos programas de flexibilidade curricular, nas escolas dos concelhos de Foz Côa, Castelo Rodrigo, Pinhel, Meda e Moncorvo. "Visa colocar a comunidade educativa em contacto com o património cultural da região".
Valorização turística
Vão ser melhoradas as condições de acessibilidade aos núcleos de gravuras e vai ser inaugurada uma nova modalidade de visitas aproveitando o caudal do rio Côa. Depois das experiências em caíque e a nado, vai testar-se a visita em embarcação eletrossolar. Em julho e agosto, poderá ser feita em balão de ar quente.
Grandes exposições
A pintora Graça Morais e o escultor João Cutileiro são dois dos grandes nomes da arte em Portugal que vão ter obras em exposições programadas para 2021 no Museu do Côa. Para além de outras iniciativas culturais, nomeadamente no campo das artes performativas, estão também a ser preparados eventos científicos.