Bombeiros ajudam em tudo: desde mudar uma lâmpada, consertar um televisor e até nas lides domésticas.
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Passa pouco das 9.30 horas quando o comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, Tiago Lopes, cumprimenta de fugida a equipa do Núcleo de Intervenção Social de Apoio ao Cidadão (NISAC). "São uns anjos", elogia-os. Na azáfama do quartel, numa altura em que o país é fustigado pelos incêndios, Júlio Barreiros e Vítor Silva, do NISAC, têm uma missão diferente. Os bombeiros andam pela cidade, diariamente, a visitar idosos que vivem numa situação de vulnerabilidade social e a apoiarem-nos no que mais precisam.
Em São Domingos de Benfica, os olhos de Orlando Fernandes, 87 anos, brilham assim que recebe o cumprimento caloroso da equipa do NISAC. É num clima de boa disposição, entre brincadeiras e recomendações, que os bombeiros se vão inteirando das principais necessidades do idoso. "Já sabe o que vai ser a bucha? Precisa de ajuda?", pergunta Vítor Silva ao octogenário, que naquela manhã só pede auxílio para vestir a camisa. O bombeiro mede-lhe ainda as tensões e a glicemia e vai dando conselhos, como beber água, numa semana em que as temperaturas quase atingiram os 40 graus.
A escolha das pessoas que visitam é feita com base em registos de ocorrências de socorro, listas de idosos sinalizados ou acompanhados por programas municipais, entre outros. "Vamos à procura de relatórios de socorro, como casos de pessoas caídas em casa, que nos indicam que pode haver ali alguma vulnerabilidade social. Começamos a monitorizar essas situações", explica Júlio Barreiros.
"Salvamos-lhe a vida"
Eduardo Soares, 71 anos, vive sozinho e, após 11 intervenções cirúrgicas, perdeu alguma mobilidade, mas a solidão é o pior. "Os amigos estão como eu, já não fazemos farras. Faz-me bem falar e estas visitas ajudam", confessa, sentado na sala que dá para o pátio onde tem um abacateiro. Já não consegue apanhar os abacates, por isso é o bombeiro Júlio Barreiros que trepa à árvore e colhe os melhores. Noutras situações, também já mudaram lâmpadas, arranjaram televisores e até ajudaram nas lides domésticas.
"Às vezes, pegar numa esfregona e limpar um pequeno espaço, dar um abraço ou uma palavra faz uma grande diferença", acredita Júlio. Já são centenas as histórias, mas há uma que não se esquece. "Quando chegamos a casa do senhor Hélio, que já faleceu, só queria que lhe aquecêssemos uma caneca de leite. Disse que lhe salvamos a vida, foi muito comovente", recorda.
Assistência
O Núcleo de Intervenção Social de Apoio ao Cidadão dos Sapadores de Lisboa, constituído por 13 elementos disponíveis 24 horas por dia, registou 19 000 ocorrências e 700 sinalizações desde 2009. Quando o JN acompanhou a equipa do NISAC, os bombeiros visitaram sobretudo idosos que usufruem do serviço de teleassistência da Câmara de Lisboa. Através deste, numa situação de emergência podem ligar para os bombeiros pressionando um botão de uma pulseira que faz a chamada sem ser necessário deslocarem-se ao telefone. Há 829 seniores a utilizarem este dispositivo.