STCP obrigada a reforçar segurança nos autocarros. Há muitos casos que não são reportados. Obrigação de uso de máscara aumentou os conflitos.
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Sete motoristas da STCP foram agredidos no exercício das suas funções durante o ano passado. Quatro das situações ficaram a dever-se a desentendimentos com terceiros que não passageiros, devido a acidentes ou incidentes de trânsito; nas restantes três os motoristas foram agredidos por passageiros. O caso mais grave aconteceu em junho com uma motorista a ser agredida violentamente por um casal que tinha sido chamado a atenção por não usar máscara dentro do autocarro. Pela sua gravidade, esta ocorrência obrigou a empresa a reforçar os meios de segurança, incluindo policiamento pago.
Desde sempre que as situações de conflito devem-se essencialmente ao facto de passageiros pretenderem viajar sem pagar. Contudo, a pandemia veio trazer um motivo mais forte para os desentendimentos. A obrigatoriedade do uso de máscara nem sempre é cumprida pelos utentes, que não gostam de ser chamados à atenção pelos motoristas. E o mesmo motivo gera conflitos entre os próprios passageiros, como explica a empresa ao JN, dando conta de oito agressões entre clientes, sem envolver o motorista, em 2021.
"Foi possível constatar que as novas circunstâncias vividas fizeram espoletar novos motivos para a existência de incidentes a bordo dos autocarros da STCP. O desrespeito pelo uso obrigatório de máscara de proteção individual por parte dos passageiros é um desses exemplos", explica fonte da operadora.
Sinal de alerta
Apesar dos números serem inferiores aos verificados em 2018 (15 agressões) e em 2019 (20), são um sinal de alerta. "Basta haver uma agressão para ser preocupante. E há sempre pequenas situações sem danos de maior e, por isso, nem sempre são participados à empresa. Por exemplo, insultos e agressões verbais são o dia-a-dia dos motoristas", salienta Mário Ramos, coordenador da Comissão de Trabalhadores da STCP.
O caso mais grave aconteceu em junho e envolveu uma motorista, de 41 anos, que teve mesmo de receber tratamento hospitalar. Foi agredida na Estrada da Circunvalação por um casal que fugiu sem que a PSP conseguisse identificá-lo. A vítima operava na linha 400, que serve toda a zona periférica e alguns bairros camarários onde, segundo Mário Ramos, "o ambiente de hostilidade é constante". Por isso, a STCP viu-se obrigada a endurecer as medidas de segurança. "Uma das ações foi a recente cabinagem do lugar do motorista nos autocarros e a criação de operativas conjuntas da Polícia e equipas de fiscalização em alguns pontos da rede da STCP, que vão no sentido de apoiar a segurança dos clientes da empresa", diz fonte da empresa.
Para Mário Ramos, a cabinagem colocada nos autocarros deveu-se essencialmente à covid-19, mas o motorista ressalva o seu efeito na segurança e a importância das equipas operativas. "Não podemos deixar de trabalhar nas zonas mais complicadas da cidade... e as coisas estão um bocadinho mais calmas", considera.
Zonas problemáticas
Os primeiros autocarros com cabinas blindadas começaram por circular nas zonas mais problemáticas da cidade, como o Lagarteiro, Pasteleira, antigo Aleixo e São João de Deus. Neste momento, toda a frota da STCP, 440 viaturas a circular numa rede com 494 quilómetros de extensão, está equipada.
Policiamento pago
O reforço do patrulhamento resultou da criação de um grupo de trabalho (logo após a agressão de junho), que integra Câmara, Comissão de Trabalhadores, STCP e PSP. Há mais vigilância policial em determinados horários e linhas, sendo este um serviço extra pago pela STCP.
Situação em Lisboa bem mais grave com tripulantes da Carris
A situação em Lisboa envolvendo os trabalhadores da Carris acaba por ser mais grave. No ano passado, 35 motoristas foram alvo de agressões físicas. A empresa diz que não apresenta queixas porque não o pode fazer e que a participação apenas pode ser feita pelos próprios tripulantes.
Além dos 35 casos de violência física com motoristas, os casos de violência contam ainda com cinco agressões a outros trabalhadores, nomeadamente da Fiscalização Comercial, e quatro agressões a passageiros. A Carris tem 2321 colaboradores, dos quais 1633 são tripulantes (motoristas e guarda-freios).