Agressões e assaltos a taxistas e condutores de TVDE têm sido mais frequentes. Receio leva a recusar serviços para alguns pontos da cidade. Maioria dos casos não é reportada à PSP.
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Há motoristas de táxi e de TVDE que recusam fazer viagens para algumas zonas do Porto, com receio de serem assaltados ou agredidos durante os serviços. De acordo com Nelson Carvalho, vice-presidente da Associação Nacional Táxis Unidos de Portugal (ANTUP), estas situações são cada vez mais frequentes, apesar de existirem estratégias e medidas para procurar aumentar a segurança dos motoristas.
"Os problemas acontecem maioritariamente à noite e em zonas como o Cerco, Pasteleira, Lagarteiro, Fonte da Moura, São Tomé [todas no Porto] e Vila d"Este [em Gaia]", partilhou o vice-presidente da ANTUP. Nelson Carvalho diz que "ninguém quer arriscar a sua vida por um trabalho, como quase aconteceu com o taxista no Lagarteiro", referindo-se ao motorista que, em agosto, foi ameaçado com facas, agredido e roubado por três jovens junto ao bairro.
Entre os profissionais das plataformas digitais (TVDE) a "situação é idêntica" e muitos têm "medo de trabalhar à noite", referiu o condutor Marco Preda.
A maioria dos casos nem chega ao conhecimento das autoridades, uma vez que os motoristas optam por não apresentar queixa. A PSP avançou que neste ano houve quatro acionamentos no Porto para este tipo de problema, mas admitiu que é um número que pode não representar a totalidade das ocorrências, uma vez que "muitos casos não são comunicados junto da Polícia, limitando a sua atuação".
"São certamente mais de quatro", confirma Nelson Carvalho, justificando que os motoristas não avançam com as queixas devido aos "processos serem demorados e normalmente não darem em nada".
O JN também questionou a Câmara do Porto, que, dada a natureza das queixas, remeteu esclarecimentos para a PSP.
Medidas pouco eficientes
"O risco de ofensas à integridade pessoal é uma das grandes razões para o cancelamento de viagens, o que acaba por desfavorecer a classificação do profissional nas plataformas", evidenciou António Fernandes, motorista de TVDE.
Nelson Carvalho considera, ainda assim, que os taxistas estão mais "desprotegidos": "Se houver algo de errado num serviço, os TVDE têm sempre dados do cliente e da viagem, ao contrário dos táxis". O vice-presidente da ANTUP afirma que já foram pensadas diversas medidas de proteção, mas "há sempre muitos entraves": "Era importante saber quem estamos a servir. Além do contacto, o nome e a morada, por exemplo. Também já se discutiu imenso a videovigilância, mas há a questão da proteção de dados".
O Sistema Táxi Seguro (STS) permite aos condutores alertarem a PSP em situações de risco, determinando a localização do veículo, o itinerário em tempo real, assim como ter o acesso ao som ambiente do interior do veículo. Atualmente, este sistema abrange 1167 táxis. Contudo, Nelson Carvalho menciona que o serviço, apesar de inovador, "é pouco eficiente, uma vez que a maioria das situações acontece muito rápido, em locais em que as autoridades vão demorar a chegar em caso de urgência".
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Licenciamento
De acordo com Tiago Lousada, fundador da plataforma de mobilidade Ixat, "muitos profissionais não avançam com as queixas porque não estão devidamente licenciados".
Perigo a aumentar
Conforme noticiou o JN recentemente, de acordo com a PSP, há zonas, como o Cerco e a Pasteleira, que nunca foram tão perigosas como agora. Só em 2021 foram ali detidas 250 pessoas. Segundo a população da Pasteleira Nova, dezenas de toxicodependentes pernoitam em tendas, que também usam para consumo. Assumem temer pela própria segurança, descrevendo roubos diários.