O que começou por ser uma festa pagã para celebrar a natureza, a abundância e para mostrar adoração ao Deus do Sol, foi, mais tarde, cristianizada pela Igreja Católica, que fez de São João Batista o padroeiro do solstício de verão. Mas, afinal, como é que o primo de Jesus, um homem simples e sério, se tornou patrono de uma das festas mais eufóricas que existem?
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Filho de Zacarias e Isabel, o "milagre" João Batista nasceu a 24 de junho, perto de Jerusalém. Segundo o Evangelho de São Lucas, Isabel era estéril e o casal não conseguia ter filhos. Até que a visita do Anjo Gabriel mudou o rumo da história e lhes trouxe a boa-nova de um pequeno rebento. "O mensageiro divino esclareceu que o nascimento do filho seria para ele [Zacarias] motivo de "regozijo e de júbilo" e "muitos se regozijarão com o seu nascimento", explicou Rui Osório, jornalista e cónego do Cabido da Sé do Porto, num texto publicado no "Jornal de Notícias", em 2011.
A educação de São João ficou marcada por ações religiosas do templo de Jerusalém, onde o pai era sacerdote. Ainda novo começou a pregar no deserto da Judeia, para onde fugiu por não querer viver com luxos. "Cobria-se com pele de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre", revela Germano Silva, jornalista e historiador, ao fazer um relato da vida do profeta. São João era primo de Jesus e é a ele que é atribuído o batismo de Jesus Cristo, a pedido do próprio, no rio Jordão.
Há registos de festas do São João no Porto desde o século XIV, no entanto, não se sabe ao certo quando começaram os festejos pagãos pelo solstício de verão. Ora, o que começou por ser a festa do povo para agradecer à natureza os frutos colhidos da terra, foi, posteriormente, cristianizado pela Igreja Católica e passou assim a celebrar-se também o nascimento de São João Batista, no dia 24 de junho. A par do Natal, o São João é o único dia onde se celebra o nascimento de uma figura cristã.
"Ainda não compreendemos hoje porque São João Batista, que foi um Santo austero e teve uma vida austera, aparece como padroeiro numa festa tão rapioqueira", confessa Germano Silva. Mas talvez a decisão da Igreja Católica se prenda com a profecia do Anjo Gabriel, que garantiu que o nascimento do filho de Zacarias e Isabel seria motivo de alegria para muitos e não há "alegria mais exuberante do que na noite de S. João no Porto, com uma convivência fraterna entre multidões de gente em festa", assegurou Rui Osório.
A vida simples de João ficou pautada pela seriedade de quem seguia a linha da honestidade e terminou de forma trágica. Morreu com cerca de 30 anos decapitado a mando de Herodes Antipas, por ter denunciado a vida adúltera do rei, que se tinha envolvido com a cunhada.
Leitores do JN votaram S. João para feriado
Os festejos do São João acontecem um pouco por todo o Mundo, mas nenhum sítio celebra tão efusivamente o solstício de verão e o nascimento de João Baptista como a Invicta. Afinal, é também o feriado do município desde 1911.
O Governo Provisório da República pretendia que todos os concelhos do país tivessem um feriado municipal e dada à indecisão que se vivia na vereação do Porto, incapaz de reunir consenso, o JN "tomou a iniciativa de fazer nas suas páginas um referendo junto dos seus leitores e as pessoas escolheram o São João", explica Germano Silva. No total de 11 639 votos recebidos, 6565 queriam o São João como feriado. E como o povo é quem mais ordena, o desejo dos portuenses foi cumprido.
Com o alho-porro na mão, sob um manto de balões reluzentes, ao som dos estridentes martelos coloridos, as ruas da Invicta enchem-se de pessoas e sorrisos na noite mais longa da cidade, de 23 para 24 de junho. "O São João no Porto é uma coisa espontânea. As pessoas vêm para a rua e dão asas à sua alegria", remata o jornalista Germano Silva.