O São João está à porta e com ele chegam os manjericos, os martelinhos e até balões de ar quente (já chamados de balões de São João). Mas, de onde nasceram as tradições desta romaria?
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Entre todos os costumes e histórias que fazem do São João o que ele é, o JN separou cinco curiosidades sobre a festividade que se aproxima.
Origem do São João
Trata-se, oficialmente, de uma festividade católica em que se celebra o nascimento de São João Batista. Mas, originalmente, a romaria do São João teve origem no solstício de verão e era uma festa pagã. Nas festividades, era celebrada a fertilidade, bem como as colheitas e a abundância. À semelhança de outras festividades, a Igreja cristianizou esta festa pagã, atribuindo-lhe São João como padroeiro.
É, no entanto, nos registos do cronista Fernão Lopes que se encontra a mais antiga referência histórica ao São João do Porto. Fernão Lopes ter-se-á deslocado ao Porto para preparar uma visita do Rei, tendo chegado na véspera do São João. O cronista fala dos festejos de 24 de junho já depois de uma lenda ter promovido a cristianização da festa, algures na Idade Média.
Manjerico, a "erva dos namorados"
É a planta dos Santos Populares e o São João não é exceção. Por toda a cidade do Porto, avistam-se bancas com manjericos de todos os tamanhos, cada um com uma quadra, geralmente alusiva ao amor. Conhecida como "erva dos namorados", segundo a tradição, na altura das festas, em junho, os namorados ofereciam um manjerico às namoradas.
Nos últimos anos, devido à pandemia, os versos colocados nos manjericos assumiram também uma mensagem de esperança e luta contra o vírus e já não são só os namorados que compram manjericos. Desde cedo que o JN também organiza um Concurso anual de Quadras de São João. Trata-se do mais antigo e popular concurso em vigor na Imprensa portuguesa, que vai este ano para a 94.ª edição.
https://www.jn.pt/iniciativas-jn/94-concurso-das-quadras-de-s-joao-14811380.html
Outra tradição associada a esta planta é a de que não se deve cheirar o manjerico diretamente, porque isso faz com que ele morra mais rapidamente. Para sentir a fragrância da planta, deve-se passar a mão sobre ela e depois cheirar a mão. Verdade ou não, é uma tradição que ficou.
Outra curiosidade não menos importante é que o manjerico é comestível e o sabor é muito idêntico ao manjericão. Ainda que tipicamente seja colocado sobre as mesas apenas nos Santos Populares, a verdade é que esta planta pode ser usada para aromatizar diversos pratos.
Alho-porro para atrair sorte
Desagradável para muitos, que dispensam levar com ele na cara, o alho-porro é muito mais do que uma planta para atiçar as pessoas. É conhecido por proteger contra o mau-olhado e bater com um alho-porro na cabeça de alguém tem como intuito desejar-lhe boa sorte.
Antigamente, esta planta crescia livremente em quintais e terrenos de lavradio. Na noite de São João, os romeiros colhiam o alho-porro, levavam-no para casa e colocavam-no atrás da porta, para dar sorte e proteger as pessoas que lá habitavam.
Martelinho de plástico, de brinquedo a símbolo do São João
Este objeto é mais recente, mas depressa se tornou um símbolo típico do São João e já substitui, em parte, o alho-porro. Foi criado em 1963, pelo industrial Manuel António Boaventura, da Fábrica Estrela do Paraíso, em Rio Tinto. Inspirado num saleiro-pimenteiro em forma de fole, Boaventura lembrou-se de adicionar um apito e um cabo e fazer assim um brinquedo.
Na altura da Queima das Fitas daquele ano, o fabricante dos martelos barulhentos foi interpelado pelos estudantes, que queriam um brinquedo que fizesse barulho para festejar aquela que é a maior festa académica até ao momento. Boaventura deu-lhes o martelo e o artefacto fez furor na festa estudantil. O êxito foi tanto que os estudantes usaram depois o martelo no São João. Tal feito gerou interesse na população e o martelinho tornou-se um símbolo da festividade até aos dias de hoje.
https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/baloes-fecham-aeroporto-na-noite-de-s-joao-14957928.html
Lançar balões de ar quente
Tendo a festa de São João origem em festividades pagãs com vista à celebração do solstício de verão (associado ao culto do sol e do fogo), tornou-se tradição o lançamento de balões de ar quente (bem como fogueiras) na noite de 23 de junho.
Mas este costume representa muito mais que um simples lançar de um balão ao céu. Tipicamente, as famílias juntam-se ou reúnem-se grupos de amigos para acender o balão e lança-lo, deixando o céu num cenário que faz lembrar um filme da Disney.
O lançamento destes balões chegou a ser proibido em alguns anos, devido ao risco de incêndio. Para este ano, não foram apresentadas restrições e o espaço aéreo do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia, vai até estar encerrado temporariamente na noite de quinta-feira.