Negligência é a razão apontada por Albano Ribeiro, presidente do Sindicato da Construção Civil do Norte, para a queda da grua na Rua da Corticeira, nas Fontainhas, no Porto, sobre nove casas.
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"Poderia ter sido evitada. Houve negligência grosseira. A grua já não devia operar", afirmou o sindicalista, referindo-se ao segundo acidente em pouco mais de dois meses com um equipamento da mesma empresa.
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Assegurando que o setor da construção nunca esteve tão desregulado como agora e que na cidade do Porto operam, neste momento, cerca de 40 gruas, Albano Ribeiro explicou que todos os equipamentos têm lança, torre e sapata - parte onde assenta o guindaste. "Se a sapata estivesse devidamente montada, isto não tinha acontecido. É bom que se tomem medidas. Se não, vamos assistir a quedas [de gruas] que vão provocar mortes", garantiu. O sindicalista nota, ainda, que oito em cada dez trabalhadores são clandestinos.
Um retrato do setor sustentado também pelos números da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas do Norte (AICCOPN): 51,6% das empresas de construção apontaram a clandestinidade e a concorrência desleal como os principais constrangimentos à atividade.
Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN, explica "que a emissão de licença é obrigatória sempre que a grua ocupe, de alguma forma, o espaço público e, para os restantes casos, é necessária uma comunicação de início dos trabalhos".
O equipamento que caiu no sábado passado já não estava em condições de operar e, segundo Albano Ribeiro, permanecerá no local para que se possa investigar as causas do acidente e a responsabilidade da empresa que montou o equipamento da Rua da Corticeira e da Rua da Torrinha, a Somirav. O JN tentou contactar a empresa mas sem sucesso.
CDU exige fiscalização
"Não se pode impedir a construção legal, mas sim exigir uma fiscalização", afirmou Ilda Figueiredo. A vereadora da CDU da Câmara do Porto considera que a Autarquia não tem responsabilidade direta sobre aquilo que aconteceu na Rua da Corticeira, mas que "tem de tomar as medidas adequadas, uma vez que é quem autoriza as intervenções privadas".
No dia do acidente, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, garantiu investigar "tudo o que se passa com as gruas que estão instaladas na cidade", assunto que irá ser discutido na reunião de Câmara de hoje.
O vereador socialista Manuel Pizarro levará uma proposta para a criação de um grupo de trabalho que, no prazo de 60 dias, proponha "medidas que reforcem a segurança dos procedimentos adotados". O grupo contará com o apoio da AICCOPN, que já se mostrou disponível para colaborar com as autarquias.