O projeto Surf & Rescue passou pela praia de Matosinhos, ensinando surfistas a salvarem pessoas em dificuldades no mar. E consolidando a formação de nadadores-salvadores.
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É quinta-feira de manhã e, no areal da praia de Matosinhos, destaca-se uma mancha amarela. Lá no meio está Mariana Silva. A surfista é uma das participantes do projeto Surf & Rescue, que dá formação em salvamento balnear. O objetivo é ensinar os surfistas a prestar auxílio a quem estiver no mar em dificuldades. Afinal, muitas vezes são eles que evitam as tragédias. “No verão temos muitas pessoas no mar, crianças, adolescentes, e várias vezes temos de tira-los da água”, sublinha Mariana, assinalando que a intervenção dos surfistas também é importante fora da época balnear. Por isso, a formação é essencial. “É efetivamente muito importante termos esta capacidade de fazer a diferença", assinala.
O projeto Surf & Rescue, criado em 2020, já formou centenas de surfistas em técnicas de resgate e de primeiros socorros. A 5ª edição, desenvolvida em sete municípios, passou nesta quinta-feira pela praia de Matosinhos, onde 44 formandos, após sete horas, adquiriram conhecimentos sobre salvamento sem meios, salvamento com pranchas, sequência completa de resgate e suporte básico de vida. No fundo, ficaram aptos para agir rapidamente em casos de emergência e em situações onde os próprios possam estar em perigo.
Os surfistas são os donos das ondas que, durante a maior parte do ano, fora da época balnear, estão dentro de água, tornando-se os principais salvadores de pessoas em risco de afogamento. A Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, nos últimos cinco anos, registou 600 mortes em meio aquático, a maioria por afogamento. Para fazer face a esta situação, surgiu o Surf & Rescue, iniciativa da Associação de Escolas de Surf de Portugal, em parceria com o Instituto de Socorros a Náufragos.
Para Afonso Teixeira, diretor executivo da Associação de Escolas de Surf em Portugal, não há nada que o deixe mais feliz do que sentir que a iniciativa é um "sucesso absoluto". O principal objetivo é "levar a ação de formação por todo o país, para todos os surfistas e nadadores-salvadores, promovendo o intercâmbio entre todos estes agentes que estão todos os dias nas praias".
Com um papel fundamental no projeto, o Instituto de Socorros a Náufragos pretende continuar a manter a parceria. Quem o diz é Pedro Silva Paulo, chefe do serviço de assistências a banhistas. "O projeto tem muita relevância. Dá valências aos surfistas, mas também garante aos nadadores-salvadores uma componente de utilização mais eficiente da prancha de surf", observou.
Na praia de Matosinhos, sentados na areia e sempre com um ar animado, sentiu-se uma sinergia entre nadadores-salvadores, surfistas e treinadores de surf. Para os formadores, há duas partes distintas na iniciativa. "O Instituto de Socorros a Náufragos vem cá ensinar as técnicas usadas para salvamentos e os surfistas ou até mesmo pessoas que não são surfistas nem nadadores-salvadores vêm aqui aprender como é que nós utilizamos as técnicas", afirma João Guedes, formador.
Álvaro Tenreiro fez a formação logo no ano de estreia do projeto e agora, cinco anos depois, voltou para recordar os ensinamentos, uma vez que as técnicas vão evoluindo. "Para além da nossa experiência com a prancha, estamos a aprender o que fazer depois de tirarmos da água as pessoas em risco. Os nadadores-salvadores estão a aprender o que é trabalhar com a prancha ", explicou. Nas próximas edições do Surf & Rescue, haverá formações sobre o uso de desfibrilhadores.
A formação já passou pelos municípios de Espinho, Torres Vedras e Sesimbra, terminando no próximo dia 29, quarta-feira, em Lagos.