Tabuaço é o concelho que mais perde: cada vez menos gente aguenta falta de oportunidades
Município da região do Douro viu a população cair 20,27% na última década. Falta de acessibilidades e de trabalho leva jovens a emigrar.
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Nos últimos 10 anos, Tabuaço perdeu 1316 moradores. Foi o concelho do Norte de Portugal e o segundo a nível nacional, depois de Barrancos, no Alentejo, onde a perda populacional foi mais notória. Entre os Censos de 2011 e de 2021, o município registou uma quebra de 20,27% no número de residentes.
O concelho, localizado no Norte do distrito de Viseu, é habitado por 5034 pessoas. Destas, 682 são crianças e jovens, mas é a faixa dos 60 aos 69 anos que domina a tabela demográfica, com 911 pessoas neste grupo.
A "sangria" populacional registada em Tabuaço é "comum à grande maioria dos municípios de baixa densidade", defende Ricardo Bento, especialista em despovoamento e demografia. O também pró-reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) considera que a perda de 20% do número de residentes "não é assim tão significativa até porque a população de Tabuaço já em si não é de grande dimensão".
Para justificar esta quebra de habitantes nos municípios mais pequenos, o responsável aponta três causas principais: "a falta de conectividade e acessibilidades rodoviárias", "a dependência apenas da agricultura" que, com a "terceirização da economia", causa a fuga de ativos para onde a economia de bens está mais presente" e "o envelhecimento da população".
"Custa deixar a aldeia, mas..."
A freguesia de Paradela e Granjinha foi a que mais moradores perdeu nos últimos dez anos. Fica-se pelos 99 habitantes, quando há uma década tinha quase o dobro. Ali vivem apenas 14 crianças e jovens.
Sem perspetivas de trabalho, os mais novos dizem só ter uma opção: emigrar. É o caso de Marcela Gomes, de 21 anos, que se continuar mais um ano desempregada vai para França ou Suíça, onde tem amigos e familiares. "Quando chegar a minha altura, tenho que ir para o estrangeiro. É a única solução. Custa um bocado deixar a aldeia, mas tem de ser", afirma.
É na casa da vizinha de Marcela que reside grande parte dos moradores mais jovens da freguesia. Paula Alcobio, de 41 anos, vive com os três filhos, de 2, 9 e 12 anos. Também ela se queixa da falta de oportunidade de emprego e de meios de transporte. "Não é fácil criá-los aqui. Para sobrevivermos, temos que cultivar alguma coisa, porque está tudo cada vez mais caro", observa.
REAÇÃO
Autarca critica erros sucessivos do poder central
O presidente da Câmara de Tabuaço, Carlos Carvalho, considera que a perda populacional no concelho e nos outros municípios de baixa densidade é "fruto das políticas de desinvestimento que têm sido adotadas ao longo dos últimos 40 anos". O autarca do PSD entende que também em matéria de incentivos à natalidade o poder central está a falhar, ao contrário dos municípios.
"Se não tivermos por parte dos governos políticas de fixação de pessoas, de aumento a taxa de natalidade, de beneficio dos que vivem nestes territórios, porque não têm as mesmas oportunidades das grandes áreas metropolitanas, este cenário vai manter-se", alerta.