A pedido do promotor imobiliário, a Câmara do Porto deu mais 360 dias para concluir a empreitada até à cota zero. Prazos voltam a derrapar.
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A pedido do promotor imobiliário, a obra no quarteirão de D. João I, no centro do Porto, tem margem para durar mais um ano. E só até à cota zero. Os prazos voltam a derrapar, num empreendimento que alterou o projeto inicial e esteve parado entre 2018 e 2020.
"Foi deferido [em janeiro] o pedido de alargamento do prazo para os trabalhos de contenção periférica até à cota do piso zero por mais 360 dias", refere, ao JN, a Câmara do Porto.
Apresentado em 2017 como Bonjardim City Block, o empreendimento tem andado empatado e aquilo que os portuenses podem ver para além da vedação é uma cratera de 15 metros de profundidade, que recomeçou a ser intervencionada em junho do ano passado.
Em 2017, o plano incluía 90 habitações para famílias e um hotel com 150 quartos. Os três pisos subterrâneos, agora paulatinamente a serem tapados, estavam destinados a um parque automóvel para 600 carros. A estes pisos somava-se outro para comércio. O projeto, da autoria do arquiteto Alexandre Burmester, ainda contemplava uma praça no centro do quarteirão.
Posteriormente, todo o espaço trocou de dono, quando foi vendido por uma sociedade gestora de fundos do BCP a investidores estrangeiros. Também mudou a fórmula original: a habitação para famílias deve dar lugar a residências para estudantes e a praça deixará de existir. Ainda não houve apresentação pública do desenho final, mas a Autarquia adianta que "o loteamento inicial já foi alterado" e que "as alterações aprovadas não careciam de discussão pública".
Falta o parecer da DRCN
Anote-se que a empreitada depende de parecer vinculativo da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN). "O processo encontra-se em análise técnica, sendo que a DRCN tem até ao próximo dia 15 para se pronunciar", confirmou esta entidade.
Sobre o histórico da obra, de lembrar que pela interrupção dos trabalhos e pelo incumprimento dos prazos houve uma "compensação pecuniária", que reverteu para os cofres do Município.
Entre os portuenses, há expectativa quanto ao futuro do terreno, que alojou a antiga Casa Forte. "É um pouco como aconteceu com o Mercado do Bolhão. Foi preciso vir o Rui Moreira para andar para a frente. É bom que avance para atrair mais gente", diz Isidro Amaral, proprietário de um café nas proximidades. Para Manuel Carvalho, "outro hotel será demais". Este ex-morador na Baixa quer ver o quarteirão "recuperar o brilho de outrora" e está "desejoso" pelo fim da reabilitação do Bolhão.
Pára-arranca dos trabalhos
Fevereiro 2017
É apresentado o projeto Bonjardim City Block, com habitação para famílias e hotel. Na altura, foi avaliado em cerca de 27 milhões de euros.
Junho 2018
A obra parou. Todo o empreendimento, entre as ruas de Sá da Bandeira, do Bonjardim e Formosa, sofreu uma interrupção, que seria longa.
Janeiro 2020
As alterações feitas pelo novo promotor imobiliário tiveram parecer negativo da Direção Regional de Cultura do Norte.
Maio 2020
Na Câmara do Porto, o vereador do Urbanismo, Pedro Baganha, informa que "existe licença de construção até à cota zero".
Junho 2020
Os trabalhos no terreno são retomados "no âmbito do pedido de escavação e de contenção periférica", segundo refere a Autarquia.
Julho 2020
Acerca da cratera de 15 metros de profundidade, o vereador Pedro Baganha diz que os técnicos lhe garantem "não haver risco".