Os moradores das casas do Património dos Pobres, em Campanhã, no Porto, cuja propriedade ninguém assume, vivem dias de sobressalto. Há dias, o teto de uma das habitações, que está com escoras, desabou no quarto de uma criança, destruindo tudo o que estava na divisão, como móveis e brinquedos.
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"Podia ter sido uma tragédia!", solta, revoltada, a moradora Mónica Costa. Momentos antes, duas meninas tinham saído, depois de ali terem estado a brincar.
"Não podemos continuar mais nesta situação em que ninguém é responsável pelo bairro: nem a Câmara, nem a Obra da Rua [instituição de Penafiel a quem a Autarquia cedeu o terreno para construir as casas, mas que rejeita ser proprietária por nunca as ter registado]. Deve ser preciso morrer aqui alguém para ser feita alguma coisa", desabafou Mónica, indignada por "andar no jogo do empurra" entre as duas instituições.
Contactada a Câmara do Porto, fonte do Município referiu que foi feita uma avaliação à casa por parte da Proteção Civil, concluindo-se que "a estrutura da cobertura apresentava-se em estado razoável, não colocando em perigo a moradora, que ficou de remover os escombros e de realizar um teto falso para melhoria das condições de habitabilidade". Acrescentou que a habitação "não se encontrava em risco de derrocada". Mas Mónica, que vive por baixo da habitação afetada, queixa-se que as fendas que tinha pela sua casa "pioraram" com o impacto da queda do teto.
Também Adélio Lobo, 54 anos, que vive no Património dos Pobres desde que nasceu, não vê a hora do bairro ter obras. "Fiz uma marquise, porque caíam pedras da fachada e tinha medo que um dia atingissem as minhas filhas. Já dentro de casa tenho placas de esferovite, porque no inverno, com a humidade, as paredes fica m muito feias", contou.
A Câmara confirma que "o conjunto habitacional encontra-se degradado, não tendo, no entanto, sido detetadas situações de perigo iminente". Do mesmo modo, salienta que este edificado "não se encontra sob gestão da Domus Social, nem é municipal". O JN tentou ouvir, sem êxito, a Obra da Rua.
Atualmente, vivem "18 famílias no Património dos Pobres, num total de 47 pessoas", contabilizou Albertina Pinto, 65 anos, que está disposta "a pagar renda [quem ali mora não paga renda] para ter uma casa em condições". Com um buraco no teto da cozinha, salienta que "ao lado [no renovado Bairro S. João de Deus] há casas vazias". Lembrou ainda que há "ratos, baratas e cobras", o que é "impensável numa zona onde brincam tantas crianças".