Depois de, na noite de quarta-feira, terem encerrado três barracas que promoviam o sexismo e que desrespeitavam o regulamento da Queima das Fitas, a Federação Académica do Porto (FAP) decretou "tolerância zero" nas fiscalizações para os que insistam em fomentar a violência sexual, de género e física dentro do queimódromo.
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A sanção foi aplicada apenas por uma noite, disse ao JN João Videira, presidente da FAP. "As barracas que encerrámos já tinham sido avisadas e por isso decidimos sancioná-las. Apesar do arrependimento pelos seus atos, não podíamos deixar passar esta situação e por isso tivemos de os responsabilizar", advogou.
Mostrar os seios, fazer do corpo bandeja e beijos lésbicos são alguns dos desafios lançados em troca de bebidas. Vários vídeos circularam nas redes com imagens explícitas.
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vigilância reforçada
Em conjunto com os responsáveis do projeto antissexista Ponto Lilás e agentes da PSP, os 200 estudantes voluntários que fazem parte da comissão executiva da FAP e que fiscalizam todas as noites as barracas têm agora ordem para lidar com "tolerância zero" com as barracas que promovam condutas impróprias.
A Queima das Fitas, diz João Videira, "é um projeto inacabado". "Há sempre espaço para melhorar, portanto, todas as edições são de aprendizagem", sublinhou o líder da FAP. "Há sempre acrescentos e melhorias a fazer".
As diligências da FAP não evitaram um protesto contra "o cenário de assédio e abusos sexuais na Queima das Fitas" que se realizará hoje por iniciativa do "Movimento a Colectiva", em frente à instituição.
Apesar das polémicas, a alegria não esmoreceu para os que vivem a Queima das Fitas com espírito de celebração. E o recinto continua, todas as noites, inundado por multidões.
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Ver a neta ser doutora
João Silva viveu muitas queimas, não como estudante, mas como bombeiro. Prestava auxílio ao queimódromo. Agora, entra no recinto com o peito cheio de orgulho pela neta, Bárbara Calado e, aos 68 anos, dança desinibido para festejar. Energia tem para dar e vender, diz João.
"Alinho sempre nas aventuras da minha neta. Não importa dormir. Interessa é estar com ela nesta fase da vida", conta com vaidade.
Para Bárbara, estudante de Psicologia, ter o avô na Queima "é fenomenal". "Dá muito mais do que os jovens. É superdivertido e alinha em tudo comigo", descreve a jovem de 19 anos. De bengalas apontadas ao céu e cartolas impermeabilizadas, finalistas e caloiros alinham-se em comboios e, ao som de quem está no palco, celebram o início e o fim de uma jornada.
"Esta Queima é especial porque é o fim de um ciclo. Vou voltar para o Luxemburgo, onde vivia, mas a vida académica vai deixar muitas saudades", antecipa Alex Ribeiro, finalista de Fisioterapia. "Foram cinco anos difíceis, mas ao mesmo tempo incríveis".
Aos 64 anos, Laurinda Azevedo vai "pela música e pelo ambiente"
Laurinda Azevedo tem 64 anos. Há mais de 20 que vem à Queima das Fitas. Apenas as grades a separavam do palco. "Todos os anos venho ver o Quim Barreiros à queima. Também vinha ver os Xutos e Pontapés, mas agora eles já não vêm", lamenta. Gosta de acompanhar os concertos da "malta" da sua idade, conta. Ano após ano, continua a vir ao recinto. "Venho ouvir esta música e viver este ambiente cheio de canalhada nova", conta Laurinda. Nem o mau tempo a pára. "A chuva não tem mal nenhum, serve para refrescar as ideias".
Dois esfaqueados quando iam socorrer uma mulher agredida
Dois jovens, com cerca de 23 anos, foram esfaqueados, na madrugada de ontem, por um grupo nas imediações do queimódromo do Porto, depois de terem socorrido uma mulher que estaria a ser agredida. Eram cerca das 6 horas, quando os queixosos, de Vila do Conde, procuraram ajuda no interior do recinto. Um tinha lesões no tórax e outro no abdómen. Foram assistidos no posto médico e levados ao Hospital de Santo António. A PSP investiga.