Setor na cidade começa a preparar alternativas. Visitas pedestres são oferta na compra de outros passeios.
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"Vamos? Let"s go." A visita vai começar. José Baltazar, 63 anos, eleva o braço e dá sinal aos mais distraídos. O guia tem a seu cargo um grupo de pouco mais de dez turistas e seguem-se duas horas de passeio a pé pelo Porto. São 9.30 horas da manhã. Não há tempo a perder.
A modalidade não é nova na cidade, mas está este ano a ser formalmente apresentada por algumas empresas do setor como uma alternativa aos tuk-tuks, já que a sua circulação na cidade será brevemente limitada pela Câmara do Porto. São as "walking tours" para o mercado internacional, ou "visitas a pé" em português. E o interesse está a aumentar.
Caminhada
De S. Bento até aos Clérigos
A longa caminhada começou na Rua de Mouzinho da Silveira, junto à estação de metro de S. Bento, e seguiu em passo apressado até aos Clérigos. Bastou a subida até lá para Bart Jansen, de 75 anos, ficar ofegante. Tanto que, já no interior da Igreja dos Clérigos, o neerlandês foi pedir por favor a Baltazar para não manter aquele ritmo durante o resto da visita. A subida é curta, mas custa. Se a fizermos mais depressa custa menos, justifica o guia, garantindo que a partir dali o percurso é plano. Bart respira de alívio.
Foi a ida a Santiago de Compostela que o conduziu ao Porto. "Foi muito importante. Somos religiosos e nos Países Baixos esse passeio é muito popular. Muita gente vai a pé. Eu fui de autocarro", partilha, ao som de uma gargalhada. Explica que, com a visão limitada, evita andar muito a pé, com receio de cair. Mas na compra desse passeio à Living Tours, recebeu de oferta esta "walking tour" (tal como todos os clientes da empresa). Para o dia seguinte, já tinha agendado uma visita a Aveiro.
Esse tem sido o foco da Living Tours, que está a celebrar 20 anos de aniversário, adianta o fundador da empresa, Rui Terroso. "Todos os dias tiramos entre mil e 1500 turistas do Porto para visitar outros pontos da região", revela, notando que a oferta no Centro Histórico diminuiu por causa das obras do metro.
Apesar disso, os passeios a pé são uma forma de preparar os turistas para a limitação de circulação de tuk-tuks e de outros veículos no centro do Porto. E o interesse por esta modalidade está a crescer, nota.
Um guia do Porto
"Vi o balcão e arrisquei"
Todos os guias recebem um mês de formação, mas a de José Baltazar reduziu-se a pouco mais de 48 horas. Nascido e criado no Porto, com vasta experiência como empregado de mesa, não só traz a história da cidade inscrita na memória, como o inglês, o espanhol e o francês na ponta da língua. "No fim do segundo dia [de formação], o meu chefe disse: Ó Baltazar, tu sabes mais disto do que eu. Vai e faz à tua maneira", conta, orgulhoso do novo capítulo iniciado em abril.
A sua morada era na Corujeira, em Campanhã. O prédio onde vivia foi transformado em alojamento local. Está a viver num T2, com a mulher e a filha em Fânzeres, Gondomar. "Há dois anos, tive um problema nas pernas", conta, garantindo estar totalmente recuperado (se dúvidas houvesse, a subida da Rua dos Clérigos já as tinha deitado por terra). Ficou desempregado.
A filha pediu-lhe que, quando fosse procurar trabalho, encontrasse um cujo horário permitisse jantarem juntos (o que não acontecia na restauração). E foi aí que o turismo, dessa vez, lhe deu a mão. "Fui à Feira do Emprego no Palácio da Bolsa, vi o balcão e arrisquei. Chamaram-me e estou cá", sorri.
Do Brasil
Em cada lugar uma fotografia
Da Igreja dos Clérigos à das Carmelitas, passando depois pelo mural de Joana Vasconcelos no Largo Moinho de Vento, Patrícia Lima e Tiago Xavier aproveitam todas as oportunidades para tirar fotografias, sempre com o aval de Baltazar. "Estejam à vontade. Temos tempo. Aproveitem", diz.
O casal brasileiro partiu do Rio de Janeiro em direção a Lisboa e está agora de visita ao Porto. "É uma cidade um pouco diferente [da capital portuguesa] e queríamos conhecer mais. Até agora, está a superar as nossas expectativas", garante Tiago, de 42 anos, enquanto Patrícia, de 39, concorda. Mas nem só de monumentos e factos históricos se fazem as visitas guiadas de Baltazar. Ao passar pela Padaria Ribeiro, faz uma pausa e aponta: "Esta casa está na mesma família há quase 160 anos. É um ótimo sítio para tomarem o pequeno-almoço e para provarem doces e salgados". Mais à frente, já depois do mural artístico, faz nova paragem na Casa Viúva: "Se quiserem comida caseira e a bons preços, é aqui que encontram."
"Vamos? Let"s go".