Dezenas de trabalhadores da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Braga saíram à rua, para exigir o pagamento dos subsídios de férias e de Natal do ano passado. Muitos trabalham há décadas na instituição, já passaram uma grave crise em 2011 e temem, agora, pelo futuro.
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Convocado pelo CESP – Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal, o protesto contou com a adesão de mais de seis dezenas de funcionários da APPACDM, que se concentraram em frente a uma das valências, no centro de Braga, antes de seguirem em passo lento até às instalações do Centro Distrital da Segurança Social.
“Trabalho na APPACDM há 35 anos, é uma vida. Este foi o meu primeiro emprego e pensei que me ia reformar aqui. O apoio à deficiência é tudo para mim. Infelizmente, as coisas estão complicadas”, desabafou ao JN Gorete Barros, de 53 anos, funcionária do complexo que a instituição possui em Esposende. Depois da crise que viveu em 2011, pensou que nunca mais iria passar pelo mesmo, mas a realidade é outra.
“Neste momento, os salários estão a ser pagos, mas os subsídios ainda não foram. E não sabemos como vai ser quanto aos subsídios deste ano, não há nenhuma perspetiva”, acrescenta. Com a voz embargada, considera que, mais do que apontar o dedo aos atuais dirigentes, que “têm tentado trabalhar”, há responsabilidades de gestores antigos que levaram à situação de “grande instabilidade” em que a instituição se encontra agora. “O grande problema é o que está para trás”, diz Gorete.
Falta de respostas
Outra funcionária ouvida pelo JN, Sílvia Antunes, que trabalha na APPACDM há 26 anos, pede “diálogo” da parte da atual Direção da instituição, que conta atualmente com cerca de 170 trabalhadores e 300 utentes distribuídos pelas várias valências. “Continuamos a ter os subsídios em atraso, o tempo passa e não há qualquer resposta. Queremos que falem connosco, que nos expliquem o que passa e que ações estão pensadas para nos pagarem”, apela.
A trabalhar no complexo que a instituição possui em Fraião, no concelho de Braga, Sílvia Antunes, de 49 anos, assegura que os utentes “são a maior motivação” para os funcionários. “Não somos uma fábrica, lidamos com seres humanos que precisam do nosso apoio e do nosso respeito. São eles que nos motivam diariamente, são a nossa maior força”, garante.
Instabilidade permanente
A APPACDM de Braga gere três lares residenciais e seis Centros de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), nos concelhos de Braga, Famalicão, Esposende e Vila Verde, e tem vivido uma situação de grande instabilidade a nível diretivo e financeiro. Da parte dos trabalhadores, há uma “preocupação crescente” com o futuro.
“É do conhecimento público que a instituição passa muitas dificuldades em termos financeiros e até do próprio funcionamento. Estas pessoas vão trabalhar de alma e coração sempre, todos os dias, com a instabilidade de não saberem o que vai acontecer no dia de amanhã”, disse ao JN a coordenadora do CESP em Braga, Ana Rodrigues.
A dirigente sindical criticou o “silêncio” da instituição e o facto de não ter sido ainda apresentado um plano de pagamento dos subsídios em atraso. “Temos tido várias abordagens com a Direção, que tem tido uma postura de silêncio e nada nos diz. Temos colocado na mesa proposta para ser possível executar planos prestacionais, porque é de facto necessário termos uma solução”, vincou.
Dívidas acumuladas
O JN contactou o atual presidente da Direção da APPACDM de Braga, Bruno Silva, mas não foi possível obter qualquer reação. No entanto, em declarações anteriores, o dirigente tem dado conta de que a instituição vive uma situação financeira muito delicada e que tem muitas dívidas acumuladas, responsabilizando a anterior gestão.
No documento de plano de atividades e orçamento para 2025, que foi aprovado no final do ano passado, a atual Direção escreveu que a sua ação está “fortemente condicionada pelas circunstâncias excecionais que antecederam a tomada de posse dos atuais órgãos diretivos”, em março de 2024. “No ano transato a APPACDM – Braga apresentou um resultado líquido negativo de 979.348,10 euros, com a agravante de registar um prejuízo operacional superior a 800.000,00 euros”, pode ler-se no texto.
O documento assinala que os atuais corpos diretivos têm procurado “inverter a situação ruinosa que encontraram”, mas que a “situação económico-financeira da instituição continua a ser bastante crítica”. “Apesar de já ser possível vislumbrar uma ténue luz ao fundo do túnel, ainda há uma longa travessia para ser feita, mas que só será bem-sucedida com o alinhamento e compromisso de toda a comunidade APPACDM Braga: os seus profissionais, os pais e familiares, os amigos e os órgãos diretivos”, refere a mensagem.